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quarta-feira, 28 de junho de 2023

Sujeito e horizonte existencial*

Uma pessoa, tendo como referência seu ângulo de visão, vislumbra e significa o mundo todo. Esses atributos surgem como novidade em meio a diagnósticos, interpretações, tipologias, distorções, recuperando a constituição e o devir existencial de cada sujeito, como um fundamento às tratativas de cuidado e atenção à vida.

A noção de estrutura de pensamento amplia o horizonte do fenômeno humano, transgredindo as lógicas da razão e da emoção. Pensando como uma malha intelectiva em movimento ou um mapa descritivo, com suas cidades, bairros, ruas e avenidas, casas, sótãos, porões, assim se manifesta esse endereço subjetivo, recheado de surpresas, além dos limites de razão x emoção.

Um lugar em que as intencionalidades atuam e são efetuados os registros de sua vida são: sua representação de mundo, seus pensamentos, suas sensações, verdades, buscas e seus valores, constituindo um diário em que são registrados os eventos – como ingredientes de um discurso existencial passado, presente e futuro. Podem se apresentar como completude ou incompletude, raciocínio estruturado ou desestruturado, acontecimentos precursores, em uma fonte de inspiração nem sempre linear.

Uma das atividades prioritárias do filósofo clínico é estudar as condições e os meios para qualificar a interseção com o devir partilhante. Nesse território em movimento ele acolhe, descarta, adiciona, subtrai, multiplica, pois toca ao filósofo ajustar seu papel existencial, de acordo com os desdobramentos e as necessidades da atividade clínica.

Talvez a percepção mais interessante, na atividade clínica do filósofo, sejam os relatos da história de vida do seu partilhante, o qual, ao compartilhar-se na terapia, lembra um autor descrevendo, com suas palavras, a porção de infinito que lhe cabe. Assim, não é rara a constatação de que a pessoa possa estar vivenciando algo ainda sem nome, pelas especificidades de sua condição única, num projeto existencial irrepetível. É compreensível que algo, até então fora da lei, ao ser compartilhado, seja página virada ou matéria-prima para reinvenção do seu autor.

Em uma cultura em vias de tornar-se, um forasteiro pode significar-se de acordo com sua melhor expressividade, tratando de proteger-se ao olhar, nem sempre cúmplice, dos princípios de verdade.

Nesse sentido, a pessoa poderá desenvolver linguagens, estratégias, refúgios próprios, e escolher onde, quando e com quem irá manifestar sua condição subjetiva.   

*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica – Anotações e reflexões de um consultório”. Ed. Sulina/Porto Alegre/RS. 2021.

**Instagram: @helio_strassburger

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