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historicidade das publicações

domingo, 18 de junho de 2023

A palavra rarefeita*













O pretexto itinerante se aloja nas entrelinhas de um cotidiano sem tradução. Seu viés de pluralidade parece aproveitar o olhar cristalizado na representação, para apontar a multidão de eventos ofuscados à primeira vista.

Seu dizer de aspecto insensato aprecia os jogos de linguagem para ir além de si mesma. Rascunhos atualizam a busca pela decifração desses códigos, emaranhados num álibi imperfeito. A leitura de um mundo sem palavras reivindica o olhar visionário da filosofiapoesia.

A fenomenologia acolhe essa busca de descrição, as analíticas tentam entender as hermenêuticas do desassossego em uma questão que se renova. Sua aparência insignificante aprecia conter a palavra insatisfeita. As crônicas do cotidiano parecem querer dar voz ao sabor-saber das ruas, das estradas. Lugar onde o ponto de vista da convicção se encontra perdido.

Nesse vaivém dos exploradores sem direção, as armadilhas costumam se esparramar como certeza, classificação. Em situações de risco pode valer mais o relato das margens, miragens, intuições. As páginas irrealizadas podem anunciar suas visões num vocabulário estranho.

É impreciso desenvolver habilidades de escuta, observação cautela, diante do fenômeno preliminar. Ao ser presente na retórica imperfeita, sua expressividade impregnada de amor e dor não permite uma leitura apressada. Pronúncia da singularidade indizível a querer compartilhar fontes desmerecidas, como a lucidez presente em toda loucura.

Seu idioma estrangeiro a percorrer a língua nativa faz referências ao absurdo de onde partiu. Aquele algo mais ainda sem vocabulário se oferece na palavra strip-tease, a pluralizar os encontros entre aturo e leitor. Talvez assim aproximar o verso mais que perfeito dos excessos de si mesmo.

Os eventos contidos no texto ultrapassam os limites do traço. Um esboço percorre seus espaços em branco a pensarescrever ressonâncias a derivar muros desconstruídos, reconstruídos, num lugar onde as poéticas da singularidade anunciam pérolas imperfeitas.

Atores principais e coadjuvantes, ora um, ora outro, se misturam na multidão dos refúgios. Apreciam o olhar do horizonte e a brisa leve dessa espécie sem nome, um pouco antes de ser inspiração. As tonalidades dessa reciprocidade podem ser refém das alegorias exuberantes. Para homenagear essa fantástica lógica das raridades, é possível recorrer à ênfase dos contos de fada. Ao olhar assim descrito, onde antes só se viam muros e paredes vazias, se oferecem vislumbres de janelas e portas.

Uma inédita mensagem parece se renovar, diante das releituras, decifrações do texto. Talvez sua lógica consiga tradução nos contornos da mente cotidiana. Interseção onde ser e não ser se encontram.

A voz da palavra rarefeita ultrapassa uma só leitura, se desenha numa estética própria e vai além. Sua alquimia refere eventos a afrontar os limites da razão. Sem ter uma só versão, ao lhe ser imposta uma lógica cristalizada, escapa por entre os dedos. Não se trata de corrigir os inéditos borrões, seu significado costuma ter amanhãs internados na subjetividade por vir.

*Hélio Strassburger in “Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável”. Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012.   

****Instagram: @helio_strassburger

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