Escrever sobre os desdobramentos de um
encontro clínico reivindica, inicialmente, um estado de redução fenomenológica.
Trata-se de visualizar, descrever eventos numa matriz compartilhada, por onde
acessos inesperados se apresentam.
As poéticas da terapia esboçam
seus inéditos numa interseção bem-sucedida. Enredos inimagináveis, não fosse a
alquimia da atuação subjuntiva, a qual, iniciada na hora-sessão, multiplica-se
no cotidiano por vir. Dos múltiplos aspectos sobre seu alcance, destaca-se a
alteração dos pontos de vista. Reinvenção dos roteiros pessoais ampliados pela
introspecção do instante de construção compartilhada.
A cooperação da categoria tempo e
lugar, aprecia multiplicar esses momentos irrepetíveis. Ao acolher
compreensivamente o que ressoa, é possível modificar representações,
redescobrir-se em meio ao ir e vir das novas conexões,
Os movimentos assim mencionados
possuem um silencio impregnado de originais. Num presente que se amplia, outros
percursos se realizam na estrutura labirinto. Na companhia de uma solidão
compartilhada, esses ecos da terapia integram sentimentos, ideias, sensações.
Sua expressividade atua para se redefinir. Aqui existe um território ampliado
pela transcendência.
Esses conteúdos do encontro
expandido continuam atuando no cotidiano da pessoa. Os agendamentos do
filósofo, ao encontrar acolhimento na perspectiva partilhante, interagem em
desdobramentos a perder de vista. Assim rememora, desconserta, reelabora,
significa algo mais até então desconhecido, busca um procedimento singular para
viabilizar essa via de acesso, por onde a intencionalidade prossegue sua
atividade cuidadora.
Ao estender-se desse jeito, essa
relação atualiza rumores de esboço compartilhado. Com ela é possível recompor
buscas, desconstruir certezas, emancipar tópicos marginalizados. Esse norte,
sul, leste, oeste, utilizando uma matéria-prima muito íntima, acrescenta algo
mais ao mundo conhecido.
A palavra terapia é a brisa leve,
acolhedora, cúmplice das transgressões aos outros do mesmo. Ao vislumbrar esses
instantes, reivindica-se um acordo de vontades, um território para acolher,
compreender a natureza e o alcance dessas repercussões.
*Hélio Strassburger in “A
palavra fora de si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed.
Multifoco/RJ. 2017.
*Instagram: @helio_strassburger
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