Num visar repleto de possíveis,
as singularidades deixam entrever vontades. Os termos agendados descrevem um
ser indeterminado. Nesse endereço subjetivo onde se exercita existencialmente,
a pessoa elabora rituais, apropria-se de pensamentos e atitudes, indica regiões
para manutenção de seu contexto.
Ao localizar esse vislumbre de um
chão por traduzir, o sujeito, em seus desdobramentos cotidianos, refere a
expressividade como chave de acesso à essa intimidade, nem sempre acessível ao
dado literal. Seu teor concede a duração possível por ser esboço. As possibilidades
da linguagem derivam desses trânsitos pessoais.
Na distorção do olhar é possível
visualizar os contornos desse continente a se mover. Assim, a realidade se
institui, significa-se, desdobra-se na invisibilidade do instante. Seu aparecer
inédito contrapõe-se ao ser previsível. A crise, nesse contexto de pretensão
definitiva, costuma se instalar como contradição, ditos estrangeiros, evasivas,
delírios precursores.
Uma confluência sobre as
delimitações do possível, ao desconsiderar a utopia, o sonho, costuma alimentar
a fome de irrealidade. Os eventos assim classificados, instituídos por sanção
ou decreto, prescrevem a objetividade como norma, alertando sobre os limites da
especulação. Antecipadamente, pode-se mapear, tipologizar a pessoa contida nos
limites da palavra território. Nesse sentido, a normalidade, quando corrompida
pela surpresa do fato novo, tende a reagir contra as ameaças de transgressão.
Esse fundamento de originalidade,
ao contribuir para a identidade singular, também pode rastrear princípios de
verdade. Ao tornar visível esse mundo subjetivo, pode-se desconstruir a
equivocidade de ter visto tudo o que existe.
Sua presença inédita se insinua
nos deslizes da realidade conhecida. A mescla dessas águas antecipa a integração
do antigo com o novo. Sua referência é um incerto caos a embalar travessias. A
distorção, o erro, a contradição, possuem um caráter de afrontar os limites
estabelecidos. Dessa coexistência problemática, é possível integrar antíteses
nos rumores da nova sintaxe.
Enquanto acolhe a percepção das
finitudes, elabora a trama contida nas dobras do que é permitido. Situa as
tramas discursivas, em busca de entendimento sobre a origem dos relatos
desencontrados, oferecendo uma leitura compartilhada sobre a estrutura do
fenômeno diante de si.
Nesse espaço investigativo, o
exercício das releituras denuncia a obra em nova perspectiva. Por esse caminho
descritivo, pode-se ampliar a visão sobre a teia de onde brotam os rumores. A
análise e a interpretação compreensiva da palavra território, para além da
literalidade, apreciam subverter e ampliar fronteiras.
*Hélio Strassburger in “A palavra
fora de si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed. Multifoco/RJ.
2017.
**Instagram: @helio_strassburger
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