As inéditas regiões da subjetividade possuem
suas fontes de desassossego. Quase sempre um estrangeiro desconsiderado, em que
a contradição criativa se esboça e se fortalece. Sua desrazão preferida é
perseguir outros lugares, inaugurando uma epistemologia das margens para
decifrar o fenômeno humano internado nos subúrbios.
Essa versão da pessoa encerrada
em si mesma propõe uma insinuação descontinuada de originais. Sua pronúncia
irreconhecível pode referir uma ótica a atiçar invenções e descobertas diante
da matriz, ainda prisioneira nalgum ponto das próprias convicções.
Para o filósofo clínico se
oferece a ocasião de vivenciar uma busca aprendiz, em que as singularidades se
encontram nos jogos de uma linguagem desconhecida. Ao partilhante ainda sem rosto, se oferece um
espaço para o rascunho das intencionalidades.
Ao transbordar nalguma forma de
esteticidade, é comum tudo ser extraordinário, inclusive ter um vocabulário de
paradoxo com o sistema convencional. Nessa quase ficção uma desenvoltura
delirante compartilha rasuras ao mundo das certezas.
Nesse espetáculo das vontades
ainda sem representação, o absurdo cotidiano parece se divertir, enquanto
oferece mensagens incompreendidas ao mundo normalizado. Sua matéria-prima,
fonte de pesquisas, pode ser encontrada em todo lugar. Um de seus esconderijos
preferidos, além do cotidiano das cidades, são as instituições totais.
A característica de quase
profecia do saber transgressivo nem sempre pode ser vislumbrada a olho nu da
língua conhecida. Território de aspecto estrangeiro, aprecia introduzir
vestígios de originalidade na invenção das palavras. Assim o contar
desconsiderado se mostra como ponto de partida, numa introspecção a propor uma
autonomia discursiva.
Muitas vezes as miragens possuem
mais nitidez que os disfarces por onde se insinuam. O teor da improvável
comunicação se oferece num estilo próprio, a sugerir eventos inacreditáveis.
Suas fronteiras se movem na agilidade dos excessos, nem sempre possíveis de
acompanhar pela interseção. Os estudos da lógica precursora parecem querer
mostrar, a cada interrogação reflexiva, algo mais sobre esse quase inacessível
universo de apontamentos.
Nos instantes de anúncio, uma
razão atua desordenada. Se não houver pressa em corrigi-la, pode significar
seus desdobramentos na existência. Com a alquimia silenciosa das palavras os
rituais de passagem alimentam as poéticas da arquitetura subjetiva.
O sobrevoo das hipóteses mal formuladas
possui um jeito leve de ser cúmplice. As tratativas com as inusitadas
derivações apreciam os eventos clandestinos para se mostrarem à luz da rua. Na
raridade do instante fugaz, as incompletudes embalam o espírito da metamorfose
significante, de onde os eventos peregrinos costumam partir.
A transgressão do antigo
equilíbrio pela contestação reflexiva e analítica pode ser uma fonte de
matéria-prima. A perspectiva desconsiderada passa a ter vida e, ao fazer
referência a algo mais diante de si, desvenda interseções entre visível e
invisível. Seu saber de controvérsia costuma ser irreconhecível ao viés de
ontem. Sua desordem criativa, quando não sufocada pela farmácia da esquina,
compartilha a desenvoltura das inquietudes. Essa semiose estranha menciona
coisas que se acham onde menos se espera.
Com o exercício da autonomia retórica os textos se oferecem à procura de um leitor de amanhãs. Nos ensaios da pessoa assim estruturada, os discursos possuem razão e desrazão. Esse é o esboço preferido pelo sujeito internado: uma lógica de náufrago aprendendo a nadar em meio à tempestade.
Num cenário onde o jogo de cena se confunde com a
própria cena disfarçada, as tentativas de descrição e entendimento multiplicam
páginas em branco. Parece fazer referência sobre o desconhecido de agora e sua
estética de realidade improvável.
*Hélio Strassburger in “Pérolas
Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável”. Ed.
Sulina/Porto Alegre/RS. 2012.
**Instagram: @helio_strassburger
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