Quem sou eu

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
Você está no espaço Descrituras. Aqui encontrará alguns textos publicados, inéditos e outros esboços de minha autoria. Tratam-se de manuscritos para estudo e pesquisa. Desejo boas leituras.

historicidade das publicações

domingo, 9 de julho de 2023

Apresentação*

As inéditas regiões da subjetividade possuem suas fontes de desassossego. Quase sempre um estrangeiro desconsiderado, em que a contradição criativa se esboça e se fortalece. Sua desrazão preferida é perseguir outros lugares, inaugurando uma epistemologia das margens para decifrar o fenômeno humano internado nos subúrbios.

Essa versão da pessoa encerrada em si mesma propõe uma insinuação descontinuada de originais. Sua pronúncia irreconhecível pode referir uma ótica a atiçar invenções e descobertas diante da matriz, ainda prisioneira nalgum ponto das próprias convicções.

Para o filósofo clínico se oferece a ocasião de vivenciar uma busca aprendiz, em que as singularidades se encontram nos jogos de uma linguagem desconhecida.  Ao partilhante ainda sem rosto, se oferece um espaço para o rascunho das intencionalidades.

Ao transbordar nalguma forma de esteticidade, é comum tudo ser extraordinário, inclusive ter um vocabulário de paradoxo com o sistema convencional. Nessa quase ficção uma desenvoltura delirante compartilha rasuras ao mundo das certezas.

Nesse espetáculo das vontades ainda sem representação, o absurdo cotidiano parece se divertir, enquanto oferece mensagens incompreendidas ao mundo normalizado. Sua matéria-prima, fonte de pesquisas, pode ser encontrada em todo lugar. Um de seus esconderijos preferidos, além do cotidiano das cidades, são as instituições totais.

A característica de quase profecia do saber transgressivo nem sempre pode ser vislumbrada a olho nu da língua conhecida. Território de aspecto estrangeiro, aprecia introduzir vestígios de originalidade na invenção das palavras. Assim o contar desconsiderado se mostra como ponto de partida, numa introspecção a propor uma autonomia discursiva.

Muitas vezes as miragens possuem mais nitidez que os disfarces por onde se insinuam. O teor da improvável comunicação se oferece num estilo próprio, a sugerir eventos inacreditáveis. Suas fronteiras se movem na agilidade dos excessos, nem sempre possíveis de acompanhar pela interseção. Os estudos da lógica precursora parecem querer mostrar, a cada interrogação reflexiva, algo mais sobre esse quase inacessível universo de apontamentos.

Nos instantes de anúncio, uma razão atua desordenada. Se não houver pressa em corrigi-la, pode significar seus desdobramentos na existência. Com a alquimia silenciosa das palavras os rituais de passagem alimentam as poéticas da arquitetura subjetiva.

O sobrevoo das hipóteses mal formuladas possui um jeito leve de ser cúmplice. As tratativas com as inusitadas derivações apreciam os eventos clandestinos para se mostrarem à luz da rua. Na raridade do instante fugaz, as incompletudes embalam o espírito da metamorfose significante, de onde os eventos peregrinos costumam partir.

A transgressão do antigo equilíbrio pela contestação reflexiva e analítica pode ser uma fonte de matéria-prima. A perspectiva desconsiderada passa a ter vida e, ao fazer referência a algo mais diante de si, desvenda interseções entre visível e invisível. Seu saber de controvérsia costuma ser irreconhecível ao viés de ontem. Sua desordem criativa, quando não sufocada pela farmácia da esquina, compartilha a desenvoltura das inquietudes. Essa semiose estranha menciona coisas que se acham onde menos se espera.   

Com o exercício da autonomia retórica os textos se oferecem à procura de um leitor de amanhãs. Nos ensaios da pessoa assim estruturada, os discursos possuem razão e desrazão. Esse é o esboço preferido pelo sujeito internado: uma lógica de náufrago aprendendo a nadar em meio à tempestade. 

Num cenário onde o jogo de cena se confunde com a própria cena disfarçada, as tentativas de descrição e entendimento multiplicam páginas em branco. Parece fazer referência sobre o desconhecido de agora e sua estética de realidade improvável.

*Hélio Strassburger in “Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável”. Ed. Sulina/Porto Alegre/RS. 2012.

**Instagram: @helio_strassburger 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.