Um certo ar de indiferença e uma
invisibilidade social/institucional, tem oferecido um campo de trabalho
significativo, ao novo paradigma da Filosofia Clínica. Não me refiro a
interseção clínica com os partilhantes, nas milhares de horas-sessão de atenção
e cuidado com o fenômeno da singularidade. Um reconhecimento incabível e
intraduzível, se distante dos endereços onde acontecem.
O viés da nova abordagem
terapêutica, ao encontrar subsídios na Filosofia, se traduz numa qualidade de
acolhimento, até então desconhecida pelos protocolos da medicina do corpo. Os
exames categoriais buscam encontrar a singularidade lá onde se localiza
existencialmente. A estrutura de pensamento é única e possui rituais subjetivos
para viabilizar seu devir, longe dos consensos, aconselhamentos, orientações
pré-estabelecidas.
As críticas que temos recebido de
algumas instituições que se sentem ameaçadas, são homenagens ao nosso trabalho
e contribuem para orientar nossas atividades. Pelas quais somos gratos.
Fernando Pessoas indica: “(...)
ninguém pode esperar ser compreendido antes que os outros aprendam a língua em
que fala.” (Alguma Prosa, 1990. Pág. 74).
As repercussões do novo, junto
aos contemporâneos, reivindicam uma espécie diferenciada de sujeito (para ser filósofo
clínico). Este terá de, além de aprender a nova linguagem, conviver com: incompreensões,
ressentimentos, isolamentos, ameaças. Ainda mais quando o paradigma recém-chegado,
colocar por terra muitos edifícios reconhecidos.
Em um país (América Latina – A pátria
grande – Darcy Ribeiro) de tendências coloniais, como se fazer entender, uma
vez que a mídia e a maioria dos integrantes das cátedras acadêmicas,
literárias, cinematográficas... se acham acorrentados no fundo da Caverna de Platão?
Fernando Pessoas ensina: “Como
pode uma época compreender ou apreciar aquilo que, por definição, a supera?
(Alguma Prosa, 1990. Pág. 105).
Num tempo sem tempo, na vertigem
da lógica tik-tok, da vida descartável, dos desatinos dos senhores da
guerra e do lucro a qualquer preço, como enxergar a diferença, quando o próprio
fenômeno humano se propõe a renúncia de sua condição?
Nesse sentido, contraditória a
essas retóricas do cotidiano, a Filosofia Clínica prossegue cuidando da vida e
das pessoas (que a encontram). Cabe um agradecimento aos métodos e instituições
que contribuem com nossa agenda há quase 30 anos.
Aquele abraço,
*hs