Sartre escreveu: “quando alguém escolhe um conselheiro, delimita a natureza do conselho que irá receber”. Esse ponto se aproxima do fenômeno da interseção em Filosofia Clínica, ou seja, quando a pessoa escolhe um terapeuta para sua clínica, sob muitos aspectos, delimita o alcance e desdobramentos dessa atividade.
No caso do novo paradigma, sendo o
partilhante sujeito de sua história, tem o direito, e em alguns casos o dever
de não concordar com o tratamento que lhe é oferecido, sem ter que justificar
ou submeter-se a figura de um determinado saber poder especialista.
Existe exceção a essa regra,
devido a legislação nacional, a qual prevê, em seus códigos e normas, os casos
para internação involuntária, como: interesse
familiar, social, econômico, ideológico, patrocinados pela indústria de
psicofármacos, ignorância cultural, metodológica.
Nos últimos anos, se oferece no país algumas alternativas, como o hospital-dia, CAPS (centro de atenção
psicossocial), propondo algum avanço na área, no entanto, além dos equívocos metodológicos,
a palavra final ainda é da psiquiatria, sendo ela também refém dos estudos e pesquisas
de orientação farmacológica.
Nesse ponto ocorre, muitas vezes,
uma confusão entre as atribuições de um poder de polícia e o asilo de alienados,
onde as pessoas, por motivos diversos, são mantidas reféns de uma autoridade:
delegado de polícia, poder judiciário, psiquiatria, interesse econômico
(internação no hospício custa caro!).
Num período triste e recente de
nossa história (1930 a 1980), foi cunhada a expressão “trem de doido” no
Brasil, para descrever um comboio que partia da Bahia/BA rumo a Barbacena/MG,
arrecadando pessoas pelo caminho (prostitutas, alcoólatras, desafetos
políticos...), destinadas a internação involuntária, tortura, submissão, cura
psiquiátrica. A
jornalista e escritora Daniela Arbex, em sua obra: “Holocausto brasileiro”. Editora
Geração/SP. 2013, descreveu em suas páginas o horror dessas práticas.
Nossa busca é aliada do sonho por melhores dias, onde se ofereçam lugares para práticas de acolhimento compreensivo e intervenções de acordo com a singularidade, com um mínimo de medicamentos (casos excepcionais e por tempo limitado), sob a coordenação de grupos inter e transdisciplinares, aptos a oferecer procedimentos adequados a cada pessoa.
Aquele abraço,
*hs
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