Sobre a arte de ser invisível
Por volta de 1999, na capital
gaúcha, a Filosofia Clínica despontava como novidade, tanto no campo teórico
como na atividade prática. O incômodo que causou - e ainda causa - aparecia na
forma de ataques de alguns próceres - que se achavam donos? - do discurso
filosófico acadêmico.
Aqui no Sul, acontecia algo
semelhante ao que proibiu (anos 1980) Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir
palestrarem na capital gaúcha, quando de sua estada no Brasil. Outro caso, que
ficou célebre do escracho da intelectualidade escolar, foi a censura e o exílio
(anos 1970/1980) de outro grande pensador: Gerd Bornheim, por manifestar um
viés excessivamente (?) filosófico e libertário com suas ideias. Assim, esse
mesmo território produz (anos 1990) a Filosofia Clínica, com uma mensagem
singular, revolucionária, questionadora das crenças e verdades até então
hegemônicas.
Nesse tempo, ocorriam debates,
críticas maldosas, ameaças, a maioria por pessoas que não sabiam o que falavam,
apenas liam: “Filosofia Clínica” e passavam a discorrer sobre o tema, despreocupados
em saber mais e melhor. Revelando uma postura não-filosófica em relação ao novo
paradigma.
Depois de algum tempo - tentando esclarecer,
divulgar, orientar - sugeri ao nosso grupo de trabalho, que fôssemos cuidar dos
atendimentos, parcerias, desenvolvimento da nova abordagem - para incômodo ainda maior
de alguns - já era um projeto nacional -.
Nessa época, lembro com carinho e
gratidão, o fato de que, levado por um amigo, conheci a vila Alto Erechim
(Morro Teresópolis), no extremo sul da capital gaúcha, onde comecei a trabalhar
como filósofo clínico. Com esse evento aprendi as vantagens de ser invisível.
Por cerca de 04 anos conheci
pessoas e realidades incríveis, dessas que você pensa existir somente nos
filmes de ficção. Com eles desenvolvemos um espectro de construções
compartilhadas de longo alcance, sempre com o apoio indispensável das agentes
comunitárias, que iam de barraco em barraco, oferecendo os atendimentos do
filósofo.
Numa sociedade cuja referência é
a propaganda e a divulgação a qualquer preço de qualquer coisa ou pessoa, ser (quase)
invisível pode ser pré-requisito para viabilizar sonhos, projetos, buscas
existenciais. Distante do barulho das unanimidades e de um certo espírito de rebanho. E aí já se vão mais de 35.000 horas-sessão...
Aquele abraço,
*hs
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