Outro dia conheci um autor, desses - raros - que não fazem questão de notoriedade ou visibilidade, a não ser nas páginas de seus livros, onde oferece pistas sobre a pluralidade de eventos que o levaram a ser escritor.
Trata-se de Alberto Manguel,
livreiro em Buenos Aires no tempo em que Jorge Luis Borges percorria as ruas da
metrópole Argentina - em suas idas e vindas da Biblioteca Nacional - à procura
de matéria-prima para sustentar seu vício predileto: a leitura. Nessas
visitas e revisitas Borges encontra, na livraria onde Manguel trabalha, um
amigo e um cúmplice da boa leitura. Este não poderia imaginar o que viria
depois.
A relação se aprofunda e Manguel
passa a frequentar a casa de Borges com regularidade. Trocam ideias sobre
livros, autores, crítica literária, novidades no campo editorial. Depois disso,
o jovem livreiro passa a cumprir um novo papel existencial para o amigo: agora como
leitor.
Nessa época Borges já tinha
perdido quase toda a visão, que lhe impedia de exercitar sua paixão dominante: a leitura e a escrita, para compor uma armadilha conceitual quase perfeita,
ou seja, a retroalimentação de leitura-escrita-leitura, reféns da sua frequência -
sem pressa - as bibliotecas.
Nesse convívio - com múltiplos agendamentos
- onde o autor de “Ficções” desempenha um papel existencial íntimo de sua
expressividade, se destaca a atividade de mentor para seu jovem amigo livreiro.
Talvez Manguel, sem se dar conta na época, além de qualificar sua leitura,
também ia desenvolvendo - pela via da interseção - uma série de competências para sua escrita.
Hoje, radicado no interior da França, Manguel deixa vestígios de suas origens em sua obra, um desses lugares de onde retira a matéria-prima para sua habilidade e talento como escritor, possível homenagem ao velho professor de leitura e escritura: Jorge Luis Borges.
Aquele abraço,
*hs
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