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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Representação de Mundo e Singularidade*

O conceito de representação de mundo, nos termos de Schopenhauer, pode significar algo decisivo à qualidade da terapia, ou seja, através da movimentação pela espacialidade intelectiva, a reciprocidade pode significar uma via de acesso ao discurso partilhante: identificar suas origens estruturais, a matriz existencial de onde se originam e como foram constituindo suas verdades.

Sobre a atualização narrativa da clínica, é importante lembrar que alguns conteúdos da pessoa podem surpreender, intimidar, entusiasmar, alegrar e entristecer a ela mesma e ao seu entorno.

Em Rubem Alves: “(...) para uma lagarta não há nada mais lindo que as coisas que se assemelham a ela. No mundo das lagartas, até os deuses são lagartas. Mas as borboletas obviamente dirão: tolice...” (Lições de feitiçaria, 2003).  

Na perspectiva metodológica da Filosofia Clínica, é fundamental acessar, através da interseção, o universo da singularidade, oferecendo ao partilhante um acolhimento de acordo com sua narrativa em processo. Tendo como ponto de partida seu contexto de vida, o lugar onde sua historicidade foi se desenvolvendo, do nascimento até os dias atuais, é possível acessar seu território subjetivo.

Ao sintonizar sua expressividade e papel cuidador na frequência existencial da pessoa, o filósofo clínico torna possível uma proximidade com sua realidade em transformação.

Por outro lado, quando ocorre uma dessintonia nesse acesso ao sujeito, ou a interseção for dificultada por fatores como agendamentos familiares, mundo do trabalho, cultura, internação involuntária, a abordagem da Filosofia Clínica pode nada significar. Em outras palavras, isso ocorre quando o partilhante estiver tão ou mais discriminado do que o exílio manicomial, deixando de ser sujeito de sua condição em processo.

Rubem Alves diz assim: “(...) os poetas têm estado repetindo isso o tempo todo. Não é de espantar, portanto, que não sejam convidados para nossos jantares acadêmicos. Quando os poetas falam, os outros convivas pensam que eles estão bêbados” (Lições de feitiçaria, 2003).   

Talvez um dos maiores problemas do nosso tempo sejam os ruídos e as dificuldades da comunicação interpessoal. Uma pessoa diz uma coisa e a outra entende outra, não conseguindo se afastar de suas verdades subjetivas. Assim não se têm diálogos, mas monólogos, algumas vezes devaneios, distorções interpretativas, em qualquer de suas formas. Tudo isso estimulado pela avalanche de informação, a qual se traduz em desinformação.

É possível, num instante posterior, mesclar essas mensagens oferecidas pelo emissor (partilhante) com a perspectiva do receptor (filósofo clínico), no entanto, isso requer uma escuta atenta e minuciosa (treinamento) sobre os conteúdos e sentidos de sua fala, em busca de ajustar essa pronúncia a um entendimento compartilhável.

*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica – Anotações e reflexões de um consultório”. Ed. Sulina/Porto Alegre/RS. 2021.

**Instagram: @helio_strassburger

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