A vida secreta das palavras
Um pouco antes do aparecimento de
um sujeito em pronúncias de ser singular, o que se tem é o dicionário de
uso comum e um pretenso saber especialista, o qual não imagina ser refém de
suas lentes.
Jorge Luis Borges auxilia: “As
palavras, diz Stevenson, são destinadas ao comércio habitual do dia a dia, e o
poeta de algum modo as converte em algo mágico.” (Esse ofício do verso, 2007.
Pág. 84).
Octávio Paz ensina que todos
somos poetas. O fragmento alerta para o fato de que existem múltiplas
derivações, tendo como ponto de partida uma palavra, um contexto, uma
expressão, muitas vezes desconhecida da própria pessoa e dos princípios de
verdade.
A clínica do filósofo aprecia localizar
esses dialetos e idioletos, ao encontrar, pela via da fenomenologia, analítica
da linguagem, hermenêutica compreensiva..., um sentido que pertença a própria
pessoa, em um processo de reencontro consigo mesma.
Ainda Borges: “Acho, porém, que o
fato de termos longos catálogos de palavras e explicações nos faz pensar que as
explicações esgotam as palavras, e que qualquer uma dessas moedas, dessas
palavras, pode ser trocada por outra.” (Esse ofício do verso, 2007. Pág. 97).
O poeta e escritor argentino
destaca que as explicações não esgotam o sentido de uma palavra, a qual -
apesar da literalidade -, pode, a qualquer momento, assumir uma nova
conformação discursiva.
Veja-se um dos equívocos da igreja
psicanalítica: ao oferecer suas tipologias, dispõe, como remédio, a
distorção de uma originalidade. Como isso ocorre? Através de um discurso de
saber-poder, com as hermenêuticas interpretativas, em cumplicidade com o gesso diagnóstico e prognóstico de sua alma gêmea: a psiquiatria. Assim, traduzem sonhos,
esquecimentos, atitudes, caos criativo e libertário, como algo fora do comum.
Sugerem desconhecer a existência de um sujeito em processo (questão
metodológica).
A cumplicidade de um espírito
colonial com a submissão voluntária as retóricas da hegemonia (via manipulação
midiática e outros), faz com que determinadas intervenções de aspecto terapêutico
sigam conformando o fenômeno humano aos limites de um aquário existencial que não lhe representa.
Por outro lado, já se vislumbram outros caminhos, na periferia e a margem dos consensos. Nesse
sentido, ao ser sujeito de sua história, é possível a uma pessoa, deixar de ser
refém de uma outra igreja, que não a sua própria expressividade em processo de
existir.
Aquele abraço,
*hs