O hábito faz o monge?
Nos dias de hoje - mais do que
nunca - a Filosofia é necessária. Em meio a tanta Fake News, blefe, distorção, jogo
de cena. A impressão que se tem, nas redes sociais, nas ruas, no parlamento, nas
famílias, amigos, colegas, é de um faz de conta itinerante. O cinema, a música
e o teatro contribuem, na desmedida em que - muitas vezes - exaltam o escracho,
o cinismo, o assalto de uma realidade por outra. A lógica predominante é a
simulação, o jogo, a manipulação,
Muita gente posta na internet suas
viagens, exibem corpos plastificados, sorrisos e beijos fingidos. A maioria aparenta
o que não é. Simulam palavras, gestos, gastam o que tem e o que não tem, para imitar
alguém, alguma coisa.
Vivemos dias de uma pandemia de faz
de conta. Sua matriz ideológica se esparrama por quase todo lugar. Quem encontra
um refúgio, que trate de protegê-lo. As instituições sociais - em sua maioria -
estão contaminadas. Pode ser difícil saber quem é quem nos dias de hoje! Quase
sempre, o blefe parece ser mais real do que a própria realidade. Essa lógica da
imitação alimenta a sociedade do lucro, onde se acena com o corpo perfeito,
sorriso perfeito, vida eterna (enquanto dure).
Aqui papéis existenciais podem
confundir o olhar de quem olha e não vê. Atualmente, os desdobramentos da
atividade pública e privada reivindicam inúmeras máscaras para se sustentar. Se
alguém quiser manter sua integridade na relação com os outros, terá de se
arriscar a ser mal interpretado ou, se seu jeito for algo estranho, mas
agradável, pode ser copiado, virar moda, na imitação das pessoas ao seu redor. E
você? Você terá a visão de um espelho distorcido, numa versão arranhada de si
mesmo.
Nesse palco mambembe, os objetos prometem
enriquecer os outros integrantes da relação, transformando-os numa extensão de
si. Os rituais de consumo se alimentam da hipocrisia social, disseminada - desde
cedo - na escola, igreja, família, onde as crianças aprendem mais com os
gestos e atitudes dos pais, professores, pastores, do que aquilo que pregam.
Aqueles que, por força da
profissão, conhecem as pessoas (sendo quem são) numa lógica de consultório, onde
as máscaras podem cair, modificar, inexistir, pode ser raro encontrar um
cotidiano de autenticidade, com gente íntegra consigo mesma e com o mundo. Na ótica das ruas, mesmo com lentes diferenciadas, nem sempre será possível
detectar quem é quem.
Nesse sentido, contrariando o
dito popular: “o hábito não faz o monge”. Talvez um convívio de maior
intimidade das pessoas (consigo mesmas) possa aproximá-las de quem são ou
poderiam ser, ainda quando buscam ser o que não são.
Aquele abraço,
*hs