Sobre palavras ao vento
Outro dia li uma expressão - nas redes
sociais - de uma ex-aluna da Filosofia Clínica. Profissional inteligente,
sensível, talentosa. Ela escreveu: “(...) gosto dessas coisas. É óbvio que isso
é assim pra mim!”.
É possível que algo seja óbvio a
partir de uma cegueira da própria estrutura de pensamento, pois essa não consegue
enxergar-se enquanto olha, possivelmente por se tratar do mesmo tópico utilizado
para ver. Noutras palavras, poderíamos perguntar: para quem é óbvio o óbvio que
se apresenta?
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer
ajuda a entender essa espécie de coisa, ou seja, sendo o mundo vontade e
representação, ao nos depararmos com algum fenômeno existencial, seja ele
sensorial ou abstrato, por detrás de nossas lentes utilizadas para enxergar,
existe um constructo intelectivo refém de suas próprias circunstâncias.
Assim é possível entender a
expressão acima - de alguém graduada e pós-graduada - a partir de seu
referencial epistemológico ofuscado por uma fala ensimesmada.
Por outro lado, na mesma direção,
esse tímido exemplo, serve para traduzir as dificuldades de um novo paradigma,
nos dias de seu nascimento e tentativas de compartilhar a novidade com os
contemporâneos. Dentre as principais causas, se apresenta a intoxicação da
geração atual com as abordagens reconhecidas, impregnadas de publicações,
congressos, patrocínios, cursos acadêmicos... ciência normal!
Um dos pressupostos para quem se
atreve a investir seus dias e noites em uma nova abordagem - como a Filosofia
Clínica - é que terá de encontrar alguma alegria e realização, tendo por
companhia o escracho, a crítica maldosa, o desmerecimento de quem - a qualquer preço - tenta manter sua zona de conforto metodológica, financeira (reserva de mercado).
Foi esse um dos motivos pelo qual
deixei a formação, por não vislumbrar candidatos com borogodó para a
nova metodologia cuidadora. Dentre os que se candidatavam aos estudos, tanto
àqueles que estudaram comigo nos 21 anos pelo Brasil, como quem se candidatou
nos últimos tempos, testemunhei - com exceções - palavras ao vento.
A maioria dos estudantes ou
candidatos, não gosta de estudar. São reféns do seu contexto de vida, suas
escolhas, a preguiça intelectual, hipocrisia social, ou do sistema capitalista,
que busca transformar tudo em necessidade pecuniária. Assim, preferem
cursos que ofereçam “atalhos” para aquisição de um diploma “fácil”.
O que não percebem, no momento
desses “estudos”, é que, exatamente por isso, terão dificuldades com a nova
profissão. Nesse sentido, podem colocar a responsabilidade na nova abordagem,
sem suspeitar que foram cúmplices de uma fraude.
Aquele abraço,
*hs
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