A Singularidade e os Novos Tempos
Num dia desses, em sua coluna, o
jornalista, escritor, tradutor, Juremir Machado da Silva, Doutor em
comunicação e professor universitário na FAMECOS/PUC em Porto Alegre, “Doutor
Honoris Causa” pela Universidade Paul Valéry Montpellier III na França, dentre
muitos outros méritos e competências, escreveu algo que nos interessa.
Um pouco antes, lembro de alguns
dos principais jornais brasileiros, como Zero Hora (aqui no Sul), O Globo (no
RJ), a Folha (em SP), só publicarem textos (alguns sofríveis) se partirem de
escritores com alguma posição social reconhecida. Em suas descrições a maioria
é: diretor de alguma coisa, coordenador de outra. Parece que os editores são
reféns de seus pré-juízos.
No caso do Juremir existe uma
conciliação entre o talento e a sensibilidade de escritor, jornalista,
educador, e suas publicações, antes no Correio do Povo (tradicional publicação
gaúcha), agora noutros espaços, como: o Matinal Jornalismo. Nem se fala na
farta produção literária!
Recordo com carinho e gratidão, do
espaço que abriu para publicação no caderno de sábado do Correio do Povo, de um
artigo: “Além da Psicanálise – A Filosofia Clínica”. Esse fato ocorreu
por ocasião do V Colóquio Nacional de Filosofia Clínica, realizado na Assembleia
Legislativa do RGS em 2016. Esse é um aspecto que identifica o tal borogodó,
ou seja, quem, mesmo nas leituras preliminares, consegue reconhecer as
faíscas de algo novo.
Por outro lado, na mesma direção,
em meio a tanta mesmice sob a rubrica de inovação, penso, mas não digo: “Deixa
de ser colono (no pior sentido da expressão) e sossega com essa mania de acolher
a enganação e consumir porcaria!”.
Mas quero falar de outra coisa.
Em seu texto de 18/01/2024, no espaço: “Matinal Jornalismo”, Juremir tece
algumas críticas reflexivas sobre o fenômeno da privatização desvairada em
nosso estado. Diz o autor: Quase tudo no RS continua chegando com 30 ou 40 anos
de atraso. Grandes cidades europeias privatizaram água e luz nos anos 1990. Têm
voltado atrás recentemente.” Na sequência compartilha: “Enquanto cidades europeias
caminham para o transporte público e gratuito, Porto Alegre privatiza o que
tinha de melhor. Sucateia e privatiza”. Esses tópicos têm relação com o recente
ciclone que passou por aqui, deixando a maioria da população sem luz e água por
vários dias.
Diz ainda: “Os modernizadores
fanáticos substituíram o bonde pelo ônibus, os trens pelo transporte
rodoviário, a sacola de pano pelo plástico...” (...) “Depois vão andar de bonde
e de trem na Europa.”
Ora, ora, essa cegueira é
clássica. Vejam-se os casos: Van Gogh, na Pintura, que nos deixou aos 37
anos, viveu de 1853 a 1890. Em vida teve como reconhecimento o descaso, a
miséria dos seus contemporâneos. Suas obras hoje valem milhões em qualquer
moeda. Frantz Kafka, na Literatura, que nos deixou aos 31 anos, viveu de
1883 a 1924, sua obra foi desconhecida em vida. Hoje seus textos são fonte de
inspiração. Friedrich Nietzsche, na Filosofia, que nos deixou aos 56
anos, viveu de 1844 a 1900, teve uma vida errante e suas ideias foram acidamente
criticadas, descartadas pelos seus contemporâneos. Hoje é referência. Virgínia
Woolf, na Literatura, que nos deixou aos 59 anos, viveu de 1882 a 1941,
outro caso de descaso em vida. Teve algum reconhecimento tímido, por alguns
amigos e colegas de profissão. Hoje festejada e acolhida.
Alguns anos ou séculos depois,
essas genialidades costumam ser descobertas, como resultante da pesquisa de um
público seleto, com borogodó para compreender, traduzir, ressuscitar aos
nossos olhos, ouvidos e mentes, a magia despercebida por seus contemporâneos.
Quer inovação? Leia e releia os
clássicos! A novidade que anda por aí, passa longe dos
festejos, fogos de artifício, unanimidades de rebanho. Nas entrelinhas disso
tudo, existem sujeitos convivendo com a singularidade dos novos tempos.
Aquele abraço,
*hs
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.