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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Filosofia Clínica Agridoce 23*

 

                                Onde você aprende o que sabe?

Os anos de convívio com pessoas à margem, vem me ensinando sobre a existência de um amplo território virginal, desconhecido, no qual atuam diferentes forças materiais e imateriais.

Ainda lembro do meu segundo texto em papel, publicado pela editora E-Papers/RJ em 2009, intitulado: “Filosofia Clínica – Diálogos com a lógica dos excessos”, naquela época vinha de uma imersão em hospitais psiquiátricos. Nas páginas iniciais escrevi: “Dedico esta obra à multidão exilada em cada um.

Reconheço a atualidade dessa dedicatória, pois o cotidiano dos atendimentos se reapresenta como um processo de libertação das expressividades, em seu encontro com o novo referencial teórico-prático.

Mattew Pearl ensina: “(...) os primeiros murmúrios de uma nova verdade não são captados pelos que necessitam de amplificadores de ouvido.” (O clube Dante, 2005. Pág. 223).

É o caso dos novos paradigmas que brotam - silenciosamente - das fissuras e contradições da ciência normal (Thomaz Kuhn). Esta, ao não dar conta do fenômeno humano em vias de ressignificação pessoal, trata de internar, medicalizar, desconstituir o sujeito em forma de objeto. Passa longe de enxergar os remédios que a própria pessoa oferece a si mesma em seu caos transformador (questão de método).   

Maurice Blanchot lembra Nietzsche: “(...) uma forma tal marca sua recusa de sistema, sua paixão pelo inacabado, o fato de pertencer a um pensamento (...) ela esteja ligada à mobilidade da pesquisa, ao pensamento viajante – o de um homem que pensa caminhando e segundo a verdade do caminhar.” (A conversa infinita – a experiência limite, 2007. Pág. 115).      

Meus professores são meus alunos, partilhantes, e os discursos midiáticos impregnados de “comprovação científica”. Daí consigo qualificar o papel existencial cuidador, investigador, bem assim a expressividade de acordo com a natureza, o alcance, a possibilidade das interseções. Aprecio a invisibilidade do trabalho que desenvolvo, pois mantém uma capa de proteção para prosseguir atuando na periferia e contraponto da normal idade, a qual insiste em submeter o que não for espelho. Aprendi bem mais no convívio com as pessoas internadas, do que em anos frequentando escolas, seminários, congressos, universidades.     

O devir existencial acolhe uma metodologia que a compreende, como cumplicidade e reconhecimento de suas mensagens, refugiadas num amanhã que se esboça diante de si mesma sendo outra. Nesse sentido, uma investigação crítica, reflexiva, analítica, capaz de desenvolver-se em meio a tanta desinformação ideológica, reivindica uma hermenêutica compreensiva, para, preliminarmente, acolher o estranho absurdo presente no dia a dia, como companhia da mesma viagem.

Aquele abraço,

*hs

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