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domingo, 3 de março de 2024

Filosofia Clínica Agridoce 24*

 

                     Biografia, autobiografia ou o discurso da singularidade? 

A intervenção que ofereço no instagram: @hélio_strassburger, como um complemento as demais atividades de trabalho, serviu, nas duas últimas semanas, para algumas reflexões sobre o fenômeno da escrita literária com a prática de consultório do filósofo.

O livro: “Os construtores do mundo”, traduzido e publicado no Brasil em 1946, pela Editora Guanabara/RJ, traz uma breve seleção de autores estudados por Stefan Zweig, escritor, biógrafo, austríaco refugiado em Petrópolis/RJ em 1936.   

Inicialmente, num visar de superfície, os escritos de Zweig se parecem com os conteúdos de qualquer texto literário, inclusive com a recente: “Filosofia Clínica e Literatura – conversações”, publicada pela Editora Sulina em 2023.  

Ajustando o olhar se pode ver semelhanças e distanciamentos nessas duas obras:

a) ambas fazem um estudo entre suas respectivas áreas de atuação profissional, utilizando autores para evidenciar este ou aquele ponto de vista.  

b) os dois livros se debruçam em discorrer sobre determinados aspectos em detrimento de outros, utilizando como fonte de inspiração autores e menções de sua preferência.

c) outra semelhança é o fato de que, como ensina Schopenhauer, a autoria, ao selecionar e falar de outros autores, expõe uma determinada medida de si mesma.

d) a proximidade, no entanto, para por aí. Se Zweig trata de refletir sobre alguns aspectos dos textos selecionados, em “Filosofia Clínica e Literatura” trata-se de uma conversação da clínica filosófica com a Literatura.   

Por vários caminhos é possível destacar na escritura, assim como na vida, um viés extraordinário, presente em cada momento de um discurso existencial. Em Literatura, a mão que escreve se anuncia na seleção dos textos, autores, na percepção de determinados ângulos em detrimento de outros, como uma autobiografia redigida sem pensar.

O procedimento da intencionalidade, ajuda a entender o processo por onde, seja na atividade clínica, nas retóricas de seminário ou redigindo um texto, é difícil manter um distanciamento entre as convicções da autoria e sua produção descritiva ao falar, escrever, raciocinar.

Por outro lado, essa faceta do fenômeno humano, auxilia o trabalho do filósofo em consultório, a identificar os tópicos determinantes da estrutura de pensamento do partilhante, o qual, ao se sentir livre para se expressar, pode compartilhar a matéria-prima com que o filósofo clínico irá trabalhar.

Ainda restam muitas incógnitas no universo da singularidade, e, o fato de determinadas áreas possuírem um discurso de saber-poder de pretensão científica, cristalizado por inúmeras repetições e acréscimos de sustentação, não ajuda a pesquisa comprometida com elucidar as margens e recantos da pessoa em seu devir existencial.

Talvez esse fato, por si só, possa esclarecer a sucessão de transtornos, espectros, síndromes... com que algumas disciplinas da tradição se esforçam em divulgar a cada dia, como se algo novo estivesse se apresentando. Ora, poderiam trabalhar com a noção de singularidade (questão de método e borogodó) e descobrir um mundo a cada atendimento, qualificando práticas, distanciando o gesso diagnóstico e as miragens da psiquiatria e seus auxiliares.    

Aquele abraço,

*hs

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