A sala de aula e a clínica aprendiz
Os anos de atividade em sala de
aula, como professor de Filosofia, especificamente com alunos do ensino médio e
da graduação, ensinaram a respeito da condição humana incompreendida, suas
formas de manifestação, a linguagem, roupas, músicas, cabelos, e outras formas
de contestação social.
Acho que Carl Rogers escreveu: “a
sala de aula é um ambiente para terapia de grupo”, ou seja, o processo de
ensino aprendizagem - ainda mais com a disciplina de Filosofia - se presta a
conversações, reflexões, partilhas, de longo alcance na malha intelectiva do
lado a lado da relação professor/aluno.
Octavio Paz ensina: “(...) a
linguagem é poesia e cada palavra esconde certa carga metafórica disposta a
explodir no momento em que se toque na mola secreta, mas a força criadora da
palavra reside no homem que a pronuncia.” (O arco e a lira, 2012. Pág. 45).
Um aspecto que chamava a atenção
era a força expressiva, em minhas aulas, de alunos considerados problemáticos,
divergentes, os quais participavam ativamente (discutindo, escrevendo,
protestando), elaborando uma relação singular da Filosofia com eles mesmos.
Naquele tempo (início dos anos
1990) percebia e sentia um acolhimento de suas singularidades, sem um alcance
maior, por não estarmos numa terapia de excelência. No entanto, ainda assim, os
textos, diálogos, conteúdos em sala de aula, pareciam traduzir alguma coisa que
os alunos não atingiam por si só, manifestando variadas formas de violência em
seu cotidiano dentro e fora da escola.
Octávio Paz compartilha: “A
cólera, o entusiasmo, a indignação, tudo o que nos deixa fora de nós tem a
mesma virtude libertadora.” (O arco e a lira, 2012. Pág. 59).
Foi nessa época que surgiu um
projeto na escola Pedro Schneider (Pedrinho) em São Leopoldo/RS, de encontros
semanais. Eram grupos de alunos e ex-alunos interessados em participar de uma
terapia de grupo, com base na Filosofia Clínica.
Em um espaço cedido pela instituição,
formamos grupos de 10/12 participantes, com encontros aos sábados à tarde. O
projeto teve a duração de 03 anos, interrompido pelas necessidades de expansão
da Filosofia Clínica - com as aulas em vários estados brasileiros - e o
direcionamento dos integrantes aos estudos da graduação. Alguns continuaram sua
clínica no espaço em Porto Alegre.
Esses encontros se realizaram,
posteriormente, com alguns alunos da graduação (Feevale em Novo Hamburgo). Na
época aconteciam no Instituto Packter na capital gaúcha, eram atividades com
8/9 participantes. A reflexão, nos dias de hoje, aponta para a necessidade de
se formar grupos menores, talvez 4/5 integrantes.
Com Octavio Paz: “(...) toda
magia que não se transcende – isto é, que não se transforma em dom, em
filantropia – devora a si mesma e acaba devorando seu criador.” (O arco e a
lira, 2012. Pág. 61).
As dinâmicas de uma clínica de
grupo oferecem a possibilidade de se alcançar uma população maior de pessoas,
em seus processos de integração, desconstrução de formas de agir e pensar, que
dificultam um processo de autodescoberta e desenvolvimento.
Um caminho aprendiz sobre a
natureza e o alcance de um saber compartilhado com a vida como ela é, em busca
de uma melhor expressividade para pessoas a margem de si mesmas.
Aquele abraço,
*hs
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