Quem sou eu

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
Você está no espaço Descrituras. Aqui encontrará alguns textos publicados, inéditos e outros esboços de minha autoria. Tratam-se de manuscritos para estudo e pesquisa. Desejo boas leituras.

historicidade das publicações

terça-feira, 12 de março de 2024

Filosofia Clínica Agridoce 26*

 

                                     A sala de aula e a clínica aprendiz

Os anos de atividade em sala de aula, como professor de Filosofia, especificamente com alunos do ensino médio e da graduação, ensinaram a respeito da condição humana incompreendida, suas formas de manifestação, a linguagem, roupas, músicas, cabelos, e outras formas de contestação social.  

Acho que Carl Rogers escreveu: “a sala de aula é um ambiente para terapia de grupo”, ou seja, o processo de ensino aprendizagem - ainda mais com a disciplina de Filosofia - se presta a conversações, reflexões, partilhas, de longo alcance na malha intelectiva do lado a lado da relação professor/aluno.

Octavio Paz ensina: “(...) a linguagem é poesia e cada palavra esconde certa carga metafórica disposta a explodir no momento em que se toque na mola secreta, mas a força criadora da palavra reside no homem que a pronuncia.” (O arco e a lira, 2012. Pág. 45).   

Um aspecto que chamava a atenção era a força expressiva, em minhas aulas, de alunos considerados problemáticos, divergentes, os quais participavam ativamente (discutindo, escrevendo, protestando), elaborando uma relação singular da Filosofia com eles mesmos.  

Naquele tempo (início dos anos 1990) percebia e sentia um acolhimento de suas singularidades, sem um alcance maior, por não estarmos numa terapia de excelência. No entanto, ainda assim, os textos, diálogos, conteúdos em sala de aula, pareciam traduzir alguma coisa que os alunos não atingiam por si só, manifestando variadas formas de violência em seu cotidiano dentro e fora da escola.

Octávio Paz compartilha: “A cólera, o entusiasmo, a indignação, tudo o que nos deixa fora de nós tem a mesma virtude libertadora.” (O arco e a lira, 2012. Pág. 59).

Foi nessa época que surgiu um projeto na escola Pedro Schneider (Pedrinho) em São Leopoldo/RS, de encontros semanais. Eram grupos de alunos e ex-alunos interessados em participar de uma terapia de grupo, com base na Filosofia Clínica.

Em um espaço cedido pela instituição, formamos grupos de 10/12 participantes, com encontros aos sábados à tarde. O projeto teve a duração de 03 anos, interrompido pelas necessidades de expansão da Filosofia Clínica - com as aulas em vários estados brasileiros - e o direcionamento dos integrantes aos estudos da graduação. Alguns continuaram sua clínica no espaço em Porto Alegre. 

Esses encontros se realizaram, posteriormente, com alguns alunos da graduação (Feevale em Novo Hamburgo). Na época aconteciam no Instituto Packter na capital gaúcha, eram atividades com 8/9 participantes. A reflexão, nos dias de hoje, aponta para a necessidade de se formar grupos menores, talvez 4/5 integrantes.

Com Octavio Paz: “(...) toda magia que não se transcende – isto é, que não se transforma em dom, em filantropia – devora a si mesma e acaba devorando seu criador.” (O arco e a lira, 2012. Pág. 61).

As dinâmicas de uma clínica de grupo oferecem a possibilidade de se alcançar uma população maior de pessoas, em seus processos de integração, desconstrução de formas de agir e pensar, que dificultam um processo de autodescoberta e desenvolvimento.

Um caminho aprendiz sobre a natureza e o alcance de um saber compartilhado com a vida como ela é, em busca de uma melhor expressividade para pessoas a margem de si mesmas. 

Aquele abraço,

*hs

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.