Sobre a arte de decifrar incógnitas
O filme: Dogman, de
2023 (disponível no Prime vídeo), com roteiro e direção de Luc Besson,
oferece um olhar aproximado com o fenômeno da singularidade.
Tendo como ponto de partida alguns
recortes da vida do personagem Doug, a psiquiatra que o entrevista na prisão,
refaz alguns aspectos de sua vida, com intervenções que acabam direcionando sua
narrativa. Ainda assim, mesmo sob a égide da psicanálise - disfarçada
de psiquiatria - a obra oferece rastros de algo mais, possivelmente pela
interpretação magistral de Caleb Landry Jones como Doug, e coadjuvantes
diferenciadas.
A obra também se destaca por
evidenciar a situação de um personagem a margem dos princípios de verdade,
tendo como companhia seus cães - igualmente abandonados - os quais se associam
para viver suas circunstâncias existenciais.
Doug é um cadeirante que, após
uma prisão, e com a interferência de uma psiquiatra, passa a relatar alguns
eventos de sua vida. Com isso nós os expectadores, somos convidados a vivenciar
alguns momentos de sua trajetória de vida, pela batuta do mestre Luc Besson.
Algo que se destaca em filmes, peças
de teatro, romances com base em metodologias da área Psi, é a ilusão de que, ao
efetuar recortes (agendamentos inadvertidos) na história de vida das pessoas,
destacando os eventos da infância (Freud), esse viés por si só, sugere uma competência
para acessar a estrutura de pensamento singular.
Sei que aquilo que não se consegue acessar, pela via discursiva de um paciente psicanalítico ou psiquiátrico, é jogado para o tal inconsciente. Também conheço a força dos agendamentos da publicidade, marketing, a mídia e suas derivações, no que diz respeito a proposta por hegemonia do seu discurso ideológico.
No filme, a única possibilidade ao
personagem principal é um caminho sem volta, traduzido nas cenas finais, bem
assim o seu repúdio a condição humana, em detrimento de seu amor aos cães que o
acolhem. Existe uma tendência em muitas obras de arte, para confirmar a
necessidade de punição a quem vive em desacordo com sua época.
Talvez uma referência de obra
aberta (Umberto Eco), pudesse - ao menos cogitar - o que não se sabe, como cautela
sobre a existência de uma microfísica de poder (Michel Foucault), onde múltiplos
personagens atuam, nem sempre de acordo com uma pré-determinada vida normal.
É o caso do filme: Anatomia de
uma queda, de 2023. Direção: Justine Triet. Roteiro de
Justine Triet e Arthur Harari. Onde a história nos leva, o tempo todo,
em direção a incógnitas que não podem ser decifradas por inteiro, restando
dúvidas, hipóteses, considerações, de acordo com as possibilidades do
expectador.
Aquele abraço,
*hs
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