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segunda-feira, 18 de março de 2024

Filosofia Clínica Agridoce 27*

                                               Bem depois do final feliz

A série americana “Criminal Minds” foi ao ar em 2005, tendo como fonte de inspiração as atividades de um grupo de analistas comportamentais do FBI. O pano de fundo das suas análises é o referencial teórico-prático das metodologias de base PSI. Assim desenvolvem perfis para solucionar assassinatos seriais. 

No que se refere a alguns desses casos, é possível pensar e acreditar numa resolução bem-sucedida, por outro lado, levando-se em conta estudos e atividades de uma abordagem de base singular, esses procedimentos teriam de seguir por outras rotas de acolhimento, estudo, pesquisa, além do dado padrão e as certezas freudianas, para identificar muitos casos, até hoje insolúveis.

É claro que a série - muito bem dirigida, com atores e atrizes magníficos, roteiros excepcionais - trata de eventos bem-sucedidos com base em determinada fonte de inspiração teórica, onde os personagens (elite cognitiva do FBI e os assassinos) se adequam ao olhar determinista da metodologia aplicada.  

Por outro lado, na mesma direção, o pensador Yuval Noah Harari, autor da obra: “Sapiens - Uma breve história da humanidade”, desenvolve um raciocínio, com base em fatos históricos, onde identifica uma ameaça mortal a espécie humana: os próprios seres humanos, representados pelo desenvolvimento do fenômeno conhecido como: Homo Sapiens.

O autor indica: “Não acredite nos abraçadores de árvores, que afirmam que nossos ancestrais viveram em harmonia com a natureza. Muito antes da Revolução Industrial, o Homo Sapiens já era o recordista, entre todos os organismos, em levar as espécies de plantas e animais mais importantes à extinção. Temos a honra duvidosa de ser a espécie mais mortífera nos anais da biologia.” (Sapiens – Uma breve história da humanidade”. Pág. 109).

Se eu sei que existem homens santos e que a natureza humana pode ser boa? Sim sei e conheço alguns exemplos. No entanto, esses mesmos exemplares da espécie, por não terem a violência e a agressividade desenvolvidas para o extermínio de sua raça, podem ser facilmente dominados e extintos por seus semelhantes de maior competência na área, ainda mais com os avanços da tecnologia de guerra, armas químicas, etc... Algo parecido com o que aconteceu com as espécies anteriores ao Homo Sapiens.

Talvez a educação pudesse contribuir para reequilibrar a balança entre anjos e demônios, se não fossem as iniciativas e investidas para permitir acesso a uma educação de qualidade apenas aos escolhidos, via de regra com base no topo da pirâmide social, o que, na realidade não garante nada, pois o ser singular parece determinar os avanços de cada pessoa por este ou aquele caminho de vida, muitas vezes a margem dos princípios de verdade.   

Yuval Harari compartilha: “Isso não quer dizer que tudo é possível. Forças geográficas, biológicas e econômicas criam restrições. Mas, ainda assim, essas restrições deixam muito espaço para desdobramentos inesperados, que não parecem ter ligação com qualquer lei determinista.” (Sapiens – Uma breve história da humanidade. Pág. 323).

Essa observação se aproxima da abordagem singular da Filosofia Clínica, ou seja, reivindica-se um olhar de acolhimento investigativo, compreensivo, e singularizado, para decifrar o campo do fenômeno humano, o qual é capaz de reinventar seu próprio meio cultural, existencial, tendo como referência sua estrutura de pensamento em processo de interação com seu ambiente.

A superação das restrições e condicionamentos da cultura, tem a ver com as circunstâncias onde cada pessoa se desenvolve existencialmente, em suas ideias, atitudes, seja de submissão, subversão, criatividade, tradução, invenção de novos sistemas de convívio com as lógicas da diferença.

O pensador ensina: “A disposição para admitir ignorância tornou a ciência moderna mais dinâmica, versátil e indagadora do que todas as tradições de conhecimento anteriores.” (Sapiens – Uma breve história da humanidade. Pág. 341).

A base metodológica que contenha uma redução fenomenológica (epoché dos gregos), como cautela de aproximação com o fenômeno da singularidade, já seria bem-vindo, ou seja, teria como indicativo preliminar um não saber, em busca de um estudo peculiar da pessoa ou grupo social diante de si em processo.

Aqui se apresenta um pré-requisito de plasticidade e capacidade de adaptação ao meio desconhecido, algo que sugere uma inovação, no que se refere a proposta de conhecer as pessoas, do lado de lá da relação. Levando-se em conta seu contexto cultural, social, existencial, como uma imersão antropológica singularizada, distante das classificações e tipologias apriorísticas reconhecidas.   

O método fenomenológico, a analítica da linguagem, a hermenêutica compreensiva, como fundamento, poderia ser aliada dessa busca por acessar o fenômeno humano refugiado numa complexidade distante de um saber que não sabe.    

Yuval Harari cogita: “(...) a desordem ecológica pode ameaçar a sobrevivência do próprio Homo Sapiens. O aquecimento global, o aumento do nível dos oceanos e a poluição disseminada podem tornar a Terra menos habitável para nossa própria espécie (...) outros organismos estão se saindo muito bem. Ratos e baratas, por exemplo, estão em seu apogeu. (...) Talvez daqui a 65 milhões de anos, ratos inteligentes olhem para trás e sintam-se gratos pela dizimação causada pela humanidade (..)”. (Sapiens – Uma breve história da humanidade. Págs. 470 e 471).

A constatação da evolução do fenômeno humano conhecido como Homo Sapiens, ao destruir outras espécies para se firmar, tem a ver com o alerta do pensador Yuval, pois lembra de que os eventos atuais, já existiram noutras épocas, com nomes e recursos diferentes. Hoje vivemos tempos de avançada tecnologia, seja em benefício do homem ou voltada para a destruição em massa.

Essa capacidade de adaptação requer um borogodó raramente desenvolvido por nossas bases educacionais. Talvez devêssemos aprender com ratos e baratas, como fazem para sobreviver aos ataques da química, da biologia humana. Seguem por aí, apesar das novas drogas, venenos, parecem desenvolver contravenenos com aquilo que poderia ser o seu fim.  

Aquele abraço,

*hs

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