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quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Filosofia Clínica Agridoce 14*

 

                                    Quem ou o que significa você? 

Outro dia uma partilhante compartilhou um evento ocorrido quando da sua primeira sessão com o psicanalista. Algo que a fez buscar outra abordagem terapêutica.

Dizia ela: “O analista, alguém que eu nunca tinha visto antes, na primeira sessão, após as palavras iniciais, orientou que me deitasse no divã e ficasse à vontade. A seguir, como faço em minha casa, tirei as sandálias e me deitei confortavelmente. Imediatamente o doutor fez a seguinte afirmação: ‘sei, sei, tu estás querendo me seduzir mostrando teus pés (...)’. Isso me fez muito mal, pensei que eu tinha ido ao lugar errado...”

Esse exemplo - tenho muitos outros - serve como reflexão metodológica do que não fazer em Filosofia Clínica. Um alerta a quem segue indiscriminadamente as hegemonias e as modas do momento, os agendamentos da publicização e outros aspectos da ideologia dos princípios de verdade.

Vejo esse relato como uma questão de método, ou seja, como se apresenta numa abordagem de hermenêutica interpretativa, de onde um saber-poder especialista (psicanalítico), refere saber mais sobre seu paciente do que ele próprio. A partir de então, este fica refém das interpretações e significados do outro. 

Levando-se em conta a fragilidade existencial desses momentos de ressignificação, a problemática se amplia, no que diz respeito as distorções que a pessoa é alvo. Noutras palavras, afastando, cada vez mais, a possibilidade de ser sujeito em uma história que deveria lhe pertencer por inteiro.

Usando expressões do método utilizado com a paciente, percebo um sadismo controlador nessa espécie de abordagem, quando se desrespeita a matéria-prima dos atendimentos, com significados, distorções, agendamentos, para desqualificar uma realidade em processo.       

No caso da partilhante, na continuidade das sessões, foi possível identificar o dispositivo de autodefesa que ela usou para desautorizar a invasão indevida ao seu território subjetivo. O tópico significado da estrutura de pensamento, quando associado a outros aspectos de uma autogenia, pode se traduzir como uma bateria antiaérea. Assim, um significado, na clínica filosófica, deve ser um evento de construção compartilhada, não uma atividade isolada do terapeuta.

A resultante de um processo clínico em Filosofia se apresenta numa via de mão dupla, elaborada cuidadosamente, desde os instantes iniciais dos atendimentos. Depois disso, os exames categoriais - na versão partilhante - constituem o chão por onde se poderá compreender a natureza e o funcionamento da estrutura de pensamento, bem como suas possibilidades de um ser singular em processo.

Não é mágica ou propaganda enganosa! É trabalho e método, além, é claro, do imprescindível borogodó!

Aquele abraço,

*hs

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