Onde, com quem, como aprender?
O filme “Louco para ser normal”,
de 2017, com direção de Robert Mullan e roteiro de Roberto Mullan e Tracy
Moreton. Produzido no Reino Unido, possui 106 min de duração.
A obra trata – numa introdução –
das atividades do psiquiatra escocês R.D. Laing, o qual trabalha, nos
anos 1960, uma nova abordagem clínica denominada metanóia ou autocura. Laing
foi um dos precursores da filosofia de trabalho denominada antipsiquiatria.
Sua proposta causou grande
controvérsia e indignação entre seus pares, pois desconstruía, sob vários
aspectos, o saber-poder do psiquiatra, e sua relação com o que produzia para
depois tratar: a loucura.
Ao realizar a aproximação com uma
nova abordagem terapêutica, o filme destaca alguns eventos do trabalho de Laing,
como: o fato de residir no mesmo espaço das pessoas com as quais mantinha
relação clínica; seu cuidado em oferecer uma interseção cuidadora com o
fenômeno da singularidade (sem tipologias), visitando a sintonia subjetiva de
cada um sob seus cuidados; sua produção escrita acontecia em meio as múltiplas atividades
na casa que mantinha (não se tratava de um hospital psiquiátrico); a forte
resistência de seus contemporâneos sobre sua atividade diferenciada, com
interferências com base na legislação de seu país para conter suas ações.
Apesar de ainda utilizar alguns
conceitos da psiquiatria, demonstrava uma caminhada do papel existencial em
direção a uma nova expressividade. Muitos de seus contemporâneos se utilizavam
como exemplo de fracasso do seu trabalho, algumas exceções, que só faziam
confirmar a regra sobre a eficácia e o alcance de sua proposta clínica com a maioria
das pessoas atendidas.
Thomas Kuhn com Bernard Barber: “A
ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenômenos;
na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma frequentemente
nem são vistos. Os cientistas também não estão constantemente procurando
inventar novas teorias; frequentemente mostram-se intolerantes com aquelas
inventadas por outros.” (A estrutura das revoluções científicas, 2013. Pág.
89).
Um ingrediente para reconhecer um
novo paradigma, é a crítica contrariada da maioria dos integrantes da ciência
normal que ele supera. Com esse fato, amplia-se a defesa de interesses dos profissionais
das abordagens institucionalizadas, que se veem ameaçados pelas novas práticas.
Há uma zona de conforto
existencial, no que se refere ao mundo das ideias e da resposta cumulativa da
ciência normal, isto é, suas atividades (universidades, institutos) desenvolvem
linhas de pesquisa de mestrados, doutorados, pós-doutorados, que só fazem
acrescentar conceitos e definições para justificar aquilo que já existia,
raramente ocorrem desajustes nesse contexto.
Quando um membro do clã modifica
seu olhar e começa a enxergar novas possibilidades para as problemáticas, até
então, descartadas pela ciência conhecida, os ardis - para com ele - costumam
ser de exclusão dos times oficiais de pesquisa, como: perda da cátedra, verbas
de representação, demissão.
Tornar invisíveis ou dificultar o
aparecimento das novas ideias, são uma característica da ciência normalizada.
Por outro lado, esse fato (a invisibilidade), por si só, costuma auxiliar na implementação
das novas práticas, as quais vão se estabelecendo na sociedade pelas vias da
exclusão, marginais. A escassez de recursos cede lugar ao borogodó dos
envolvidos, os quais se sentem atraídos pelo papel histórico precursor.
Segue-se a busca por esses
endereços existenciais, onde acontecem as construções compartilhadas no campo da ciência anormal.
Aquele abraço,
hs