A palavra reencontro
Existem autores literários que,
com sua escritura, encontram a palavra certa, para nos conduzir por seus
roteiros, evidenciando refúgios nas entrelinhas de quase nada. Sua atividade
criativa se realiza em interseção com sua fonte de inspiração: a vida.
Os termos agendados em seu
intelecto dizem respeito aos locais por onde anda, com quem convive, as
leituras de um livro que se multiplica no cotidiano. A importância da leitura
para desenvolver os limites de uma estrutura de pensamento, diz respeito a
possibilidade de ser plural, contida em cada um, seja como possibilidade ou
como algo em processo.
Entendendo que os princípios de
verdade, representados pelos caciques incensados pela mídia, os quais tratam de
agendar o que deve ser valorizado, lido, apresentado, o que vestir, como e onde
comer, como viver, cuidam dos deslizes da imaginação que ultrapassa os limites
de suas verdades.
Nélida Pinõn contribui: “(...)
encerrado na água-furtada de São Jorge, indago se teria sido no passado um
navegante ou um poeta que mesmo sem o dom da escrita, semeara em torno palavras
incandescentes, todas sem dono. Sob o abrigo da imaginação, que é minha morada.”
(Um dia chegarei a Sagres, 2020. Pá. 133).
Assim deveríamos ter mais cuidado
ao escolher um livro, um local para morar, com quem conviver, pois as palavras
com que a realidade se apresenta, tem o poder de sugerir ideias, sensações,
direcionar buscas, interseções com coisas e pessoas, inclusive com a singularidade
que se quer livre.
As palavras pronunciadas,
escritas, caladas, contém a magia de capturar - pela via intelectiva - a atenção
e o foco, roteirizando espaços por onde se experiencia a vida num instante. Octavio
Paz ao referir: ‘todos somos poetas’, parece alertar para o fato de não somente
a escrita ter o dom da poesia, mas a existência de outras poéticas, como um
jardineiro cuidando de um jardim como nenhum outro ou o fotógrafo que encontra um
ângulo desconhecido da realidade, ou aquele texto desconsiderado, ora redescoberto
por esses dias da biografia de cada um.
Nélida Piñon indica: “Havia que
estudar, ter a leitura como prumo. Por meio dela saberia que o mundo ia além da
nossa natureza, dos limites da aldeia.” (Um dia chegarei a Sagres, 2020. Pág.
173).
A autora destaca a importância e
o significado da leitura, seja como um rumo a perseguir ou como um processo de
libertação pessoal, uma aliada dos dias e noites, por onde se pode desenvolver
uma autobiografia, ao se conseguir o melhor de uma condição singular em processo.
Governantes bem-intencionados sabem da
importância em investir nas escolas, universidades, em centros de pesquisa
diferenciados, na edição de bons livros, com os quais os candidatos a serem
sujeitos em sua história, poderão desenvolver uma aptidão crítica e reflexiva.
O contrário também é verdadeiro.
Sartre em seu texto “O
existencialismo é um humanismo” refere que a conquista de uma essência acontece
a partir da existência. Noutras palavras, não se nasce pronto, mas se tem a condição
- em si mesmo - de desenvolver-se na vida em direção a uma expressividade
singular. Mesmo ao ter de superar condições adversas como: a educação familiar,
escolar, religiosa, as verdades de seu tempo.
Nesse sentido a leitura é uma ameaça
as ideologias da dominação e do controle social, uma aliada para se saber mais
e melhor sobre o mundo onde se vive e convive, nesses tempos de uma tecnologia
nem sempre favorável ao fenômeno humano.
Aquele abraço,
hs
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