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segunda-feira, 3 de junho de 2024

Filosofia Clínica agridoce 33*

 

                                             A palavra reencontro 

Existem autores literários que, com sua escritura, encontram a palavra certa, para nos conduzir por seus roteiros, evidenciando refúgios nas entrelinhas de quase nada. Sua atividade criativa se realiza em interseção com sua fonte de inspiração: a vida.

Os termos agendados em seu intelecto dizem respeito aos locais por onde anda, com quem convive, as leituras de um livro que se multiplica no cotidiano. A importância da leitura para desenvolver os limites de uma estrutura de pensamento, diz respeito a possibilidade de ser plural, contida em cada um, seja como possibilidade ou como algo em processo.

Entendendo que os princípios de verdade, representados pelos caciques incensados pela mídia, os quais tratam de agendar o que deve ser valorizado, lido, apresentado, o que vestir, como e onde comer, como viver, cuidam dos deslizes da imaginação que ultrapassa os limites de suas verdades.

Nélida Pinõn contribui: “(...) encerrado na água-furtada de São Jorge, indago se teria sido no passado um navegante ou um poeta que mesmo sem o dom da escrita, semeara em torno palavras incandescentes, todas sem dono. Sob o abrigo da imaginação, que é minha morada.” (Um dia chegarei a Sagres, 2020. Pá. 133).  

Assim deveríamos ter mais cuidado ao escolher um livro, um local para morar, com quem conviver, pois as palavras com que a realidade se apresenta, tem o poder de sugerir ideias, sensações, direcionar buscas, interseções com coisas e pessoas, inclusive com a singularidade que se quer livre.  

As palavras pronunciadas, escritas, caladas, contém a magia de capturar - pela via intelectiva - a atenção e o foco, roteirizando espaços por onde se experiencia a vida num instante. Octavio Paz ao referir: ‘todos somos poetas’, parece alertar para o fato de não somente a escrita ter o dom da poesia, mas a existência de outras poéticas, como um jardineiro cuidando de um jardim como nenhum outro ou o fotógrafo que encontra um ângulo desconhecido da realidade, ou aquele texto desconsiderado, ora redescoberto por esses dias da biografia de cada um.

Nélida Piñon indica: “Havia que estudar, ter a leitura como prumo. Por meio dela saberia que o mundo ia além da nossa natureza, dos limites da aldeia.” (Um dia chegarei a Sagres, 2020. Pág. 173).

A autora destaca a importância e o significado da leitura, seja como um rumo a perseguir ou como um processo de libertação pessoal, uma aliada dos dias e noites, por onde se pode desenvolver uma autobiografia, ao se conseguir o melhor de uma condição singular em processo.    

 Governantes bem-intencionados sabem da importância em investir nas escolas, universidades, em centros de pesquisa diferenciados, na edição de bons livros, com os quais os candidatos a serem sujeitos em sua história, poderão desenvolver uma aptidão crítica e reflexiva. O contrário também é verdadeiro.   

Sartre em seu texto “O existencialismo é um humanismo” refere que a conquista de uma essência acontece a partir da existência. Noutras palavras, não se nasce pronto, mas se tem a condição - em si mesmo - de desenvolver-se na vida em direção a uma expressividade singular. Mesmo ao ter de superar condições adversas como: a educação familiar, escolar, religiosa, as verdades de seu tempo.

Nesse sentido a leitura é uma ameaça as ideologias da dominação e do controle social, uma aliada para se saber mais e melhor sobre o mundo onde se vive e convive, nesses tempos de uma tecnologia nem sempre favorável ao fenômeno humano.

Aquele abraço,

hs

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