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domingo, 23 de junho de 2024

Filosofia Clínica Agridoce 36*

                                  Onde, com quem, como aprender?  

O filme “Louco para ser normal”, de 2017, com direção de Robert Mullan e roteiro de Roberto Mullan e Tracy Moreton. Produzido no Reino Unido, possui 106 min de duração.

A obra trata – numa introdução – das atividades do psiquiatra escocês R.D. Laing, o qual trabalha, nos anos 1960, uma nova abordagem clínica denominada metanóia ou autocura. Laing foi um dos precursores da filosofia de trabalho denominada antipsiquiatria.

Sua proposta causou grande controvérsia e indignação entre seus pares, pois desconstruía, sob vários aspectos, o saber-poder do psiquiatra, e sua relação com o que produzia para depois tratar: a loucura.

Ao realizar a aproximação com uma nova abordagem terapêutica, o filme destaca alguns eventos do trabalho de Laing, como: o fato de residir no mesmo espaço das pessoas com as quais mantinha relação clínica; seu cuidado em oferecer uma interseção cuidadora com o fenômeno da singularidade (sem tipologias), visitando a sintonia subjetiva de cada um sob seus cuidados; sua produção escrita acontecia em meio as múltiplas atividades na casa que mantinha (não se tratava de um hospital psiquiátrico); a forte resistência de seus contemporâneos sobre sua atividade diferenciada, com interferências com base na legislação de seu país para conter suas ações.  

Apesar de ainda utilizar alguns conceitos da psiquiatria, demonstrava uma caminhada do papel existencial em direção a uma nova expressividade. Muitos de seus contemporâneos se utilizavam como exemplo de fracasso do seu trabalho, algumas exceções, que só faziam confirmar a regra sobre a eficácia e o alcance de sua proposta clínica com a maioria das pessoas atendidas.   

Thomas Kuhn com Bernard Barber: “A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenômenos; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma frequentemente nem são vistos. Os cientistas também não estão constantemente procurando inventar novas teorias; frequentemente mostram-se intolerantes com aquelas inventadas por outros.” (A estrutura das revoluções científicas, 2013. Pág. 89).

Um ingrediente para reconhecer um novo paradigma, é a crítica contrariada da maioria dos integrantes da ciência normal que ele supera. Com esse fato, amplia-se a defesa de interesses dos profissionais das abordagens institucionalizadas, que se veem ameaçados pelas novas práticas.

Há uma zona de conforto existencial, no que se refere ao mundo das ideias e da resposta cumulativa da ciência normal, isto é, suas atividades (universidades, institutos) desenvolvem linhas de pesquisa de mestrados, doutorados, pós-doutorados, que só fazem acrescentar conceitos e definições para justificar aquilo que já existia, raramente ocorrem desajustes nesse contexto.

Quando um membro do clã modifica seu olhar e começa a enxergar novas possibilidades para as problemáticas, até então, descartadas pela ciência conhecida, os ardis - para com ele - costumam ser de exclusão dos times oficiais de pesquisa, como: perda da cátedra, verbas de representação, demissão.

Tornar invisíveis ou dificultar o aparecimento das novas ideias, são uma característica da ciência normalizada. Por outro lado, esse fato (a invisibilidade), por si só, costuma auxiliar na implementação das novas práticas, as quais vão se estabelecendo na sociedade pelas vias da exclusão, marginais. A escassez de recursos cede lugar ao borogodó dos envolvidos, os quais se sentem atraídos pelo papel histórico precursor.  

Segue-se a busca por esses endereços existenciais, onde acontecem as construções compartilhadas no campo da ciência anormal.  

Aquele abraço,

hs

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