Quem ou o que descreve a sua história?
Em seu texto ‘A casa dos
loucos’ Michel Foucault ensina: “No fundo da prática científica existe um
discurso que diz: ‘Nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento
existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas
que, no entanto, está somente à espera de nosso olhar para aparecer, à espera
de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo
correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está
presente aqui e em todo lugar.’” (Microfísica do poder, 1990. Pág. 113).
Se pensarmos na realidade
latino-americana, da qual fazemos parte, é possível cogitar sobre a cegueira
existencial de nossos dias. Levados por um espírito de rebanho, frequenta-se,
cada vez mais as redes sociais, igrejas, farmácias, festas rave,
manicômios...
O governo anterior do Brasil - sabendo
o que estava fazendo - vetou disciplinas como: Filosofia, Sociologia, História
e afins, dos currículos escolares. Um sistema de ensino capenga e refém de
profissionais despreparados (veja-se a lógica EAD), multiplica o espírito de faz
de conta. Por outro lado - em sua maioria periféricas - as famílias se
multiplicam como “cucarachas” (Henfil - Diário de um cucaracha).
Veja-se o caso da universidade -
instituição que poderia fazer a diferença -, a qual se encontra (em nosso país)
submissa a camisa de força do MEC, professores reféns da lógica contracheque,
homenagens ao sr. diretor, chefias de departamento, publicações indexadas
(quase ninguém lê!).
Uma questão: ‘O que acontece
quando, apesar desse contexto, ainda assim, aparecem novos paradigmas,
invenções, maestrias no mundo da ciência, nas belas artes, na música, no teatro...?’
O que tenho escutado: “A maioria encontra o caminho da estrada, alguns se
refugiam nalgum lugar para proteger suas ideias, pesquisas, práticas, outros
fazem outras coisas”. Penso eu: ‘Na multidão se vivencia uma solidão
compartilhada’.
Nossos dias se assemelham a caverna
de Platão (428 a.C.-347 a.C), onde as pessoas, amarradas umas às outras, viviam
as imagens refletidas no fundo da caverna... Se alguém conseguisse reencontrar a
vida lá fora, ao regressar seria encaminhado a ‘casa dos loucos’, onde
seus delírios seriam normalizados pelo pajé alienista. Ainda assim, esses
inéditos seguem imprimindo seus sinais por aí.
Nesse sentido, uma perspectiva fenomenológica,
de hermenêutica compreensiva, analítica, divulgadas em palestras e cursos,
inovações, curas, ainda é experienciado por poucos. Talvez uma educação voltada
para as descrições e acolhimento da singularidade pudesse anunciar melhorias.
Lembrando que isso tudo já estava borrado quando chegamos por aqui. Agora nos resta
ir até o fim, deixando algumas pistas do que conseguimos vislumbrar e
compartilhar pelo caminho.
Aquele abraço,
*hs