Sobre anjos, demônios e seus disfarces
A história é rica em fatos
envolvendo uns e outros. O âmbito das possibilidades costuma estar associado a
uma interseção da pessoa com as circunstâncias históricas onde viveu, sobreviveu, desenvolveu sua singularidade.
Se fôssemos levar a sério o que
os princípios de verdade (documentos da abordagem psi) proclamam como “loucura”,
não sairíamos mais de casa ou olharíamos no espelho.
Um exemplo: entre 1863 e 1864, no
centro de Porto Alegre, quando ocorreram fatos conhecidos como: os crimes da
rua do Arvoredo (hoje Fernando Machado), ou seja, José Ramos e sua esposa
Catarina Palse, aliados com o açougueiro alemão Carlos Klaussner, produziam e
vendiam linguiças de carne humana. José e Catarina foram condenados por 2
assassinatos em abril de 1864. Os demais crimes ficaram extraviados para a
memória.
Reza a lenda que a demora na
descoberta dos fatos, ocorreu pelo sucesso das linguiças na capital gaúcha. Existem
depoimentos - clandestinos - que afirmavam ser a carne mais saborosa até então
experimentada. Algo semelhante (canibalismo) aconteceu na queda do avião nos
Andes em outubro de 1972. Talvez a diferença seja a natureza dos argumentos
utilizados, a prática é a mesma.
No outro lado do oceano, na
festejada Europa, berço de espécimes como: Calígula, Napoleão, Nero, Hitler,
Mussolini, Stálin, Franco... Ainda nos dias de hoje, as guerras e genocídios
proliferam, sob os mais arrazoados argumentos. Práticas atrozes, que, muitas
vezes, se refugiam em diagnósticos psiquiátricos, para não responder por seus
crimes.
A questão metodológica – mais uma
vez – se apresenta como um divisor de águas, ou seja, ao interditar alguém num
Instituto Psiquiátrico Forense (na ausência deste, um hospital psiquiátrico ou
geral pode servir), com um diagnóstico de doença mental, sob muitos aspectos,
se livra o assassino ou criminoso de guerra do cumprimento integral da pena.
Lembro um hospital psiquiátrico,
comprado por facções criminosas no Brasil, para que pudessem enviar para lá
alguns comparsas, como: matadores de aluguel, pois assim teriam uma vida
melhor, inclusive com facilidades para fuga. Tudo dentro da lei. Desde o
diagnóstico psiquiátrico à sentença judicial e o cumprimento da pena.
René Descartes (séc. XVII)
ensina: “As maiores almas são tanto capazes dos maiores vícios como das maiores
virtudes”. Sei que existem almas como Mahatma Gandi, Martin Luther King, e muitas
outras.
Se pensarmos com Maquiavel ou
Thomas Hobbes, abraçamos a tese de que a natureza humana é essencialmente má.
Se entendermos o homem com Rousseau ou Marx, iremos acreditar que as pessoas
nascem boas, mas a sociedade as corrompe. Ainda àquelas que acreditam no “anjinho
barroco” e suas derivações, as quais se deve levar em conta, enquanto for
possível. Sem contar os anjos e demônios disfarçados que andam por aí.
Aquele abraço,
*hs