Novos paradigmas e o saber incomum
No âmbito da ciência, um
novo modelo de entendimento das coisas aprecia surgir como dúvida, contradição,
caos precursor. Ao experienciar um território virginal de atuação e desenvolvimento,
questiona os rituais do totem reconhecido.
Um aspecto é a percepção de
alguns personagens num determinado meio, onde se começa a perceber fissuras,
cada vez maiores, na relação da ciência normal com seu objeto de trabalho.
Quando algumas pessoas modificam seu ângulo de visão, podem redescobrir algo
novo, onde antes se via sempre as mesmas coisas.
O novo olhar revela possibilidades,
até então, desconsideradas. Seu viés de alma nova, em busca de qualificar
pressupostos, atua de forma - inicialmente - clandestina. É importante destacar
que as metodologias hoje hegemônicas, quando de seu aparecimento, enfrentaram obstáculos
semelhantes.
Thomas Kuhn esclarece: “(...)
durante as revoluções, os cientistas veem coisas novas e diferentes quando,
empregando instrumentos familiares, olham para os mesmos pontos já examinados
anteriormente. É como se a comunidade profissional tivesse sido subitamente
transportada para um novo planeta, onde objetos familiares são vistos sob uma
luz diferente (...).” (A estrutura das revoluções científicas, 2013. Pág. 201).
O espaço que se abre, diz
respeito aos inúmeros fracassos de uma tese, diante do esgotamento de sua
abordagem. A transição de um modelo a outro reivindica um tempo para se
deslocar e sustentar esse movimento de superação.
A cegueira institucional aqui
lembrada, não trata de não ver, mas de um ver que não enxerga ou, se enxerga,
desmerece, desvirtua, para manter seu lugar de privilégios. Por outro lado, para
desenvolver um saber extraordinário, a crise costuma associar um pequeno grupo
de mentes brilhantes.
Kuhn refere: “Os cientistas falam
frequentemente de ‘vendas que caem dos olhos’ ou de uma ‘iluminação repentina’
que ‘inunda um quebra-cabeça’ que antes era obscuro, possibilitando que seus
componentes sejam vistos de uma nova maneira.” (A estrutura das revoluções
científicas, 2013. Pág. 215).
Nesse sentido, é raro se ter um
grupo significativo de especialistas dispostos a renunciar a uma zona de
conforto para lidar com eventos fora da curva. Talvez seja necessário, ao
pensador dos novos paradigmas, que tenha alma filosófica, traga consigo um viés
de admiração, abertura reflexiva, trânsito pelos deslimites de sua área,
incluindo o diálogo com as absurdidades de um saber incomum.
Aquele abraço,
hs