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Você está no espaço Descrituras. Aqui encontrará alguns textos publicados, inéditos e outros esboços de minha autoria. Tratam-se de manuscritos para estudo e pesquisa. Desejo boas leituras.

historicidade das publicações

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Hermenêutica compreensiva*

Quando se pensa ou busca trabalhar com hermenêutica podem surgir várias dúvidas sobre o tema. Talvez a distinção mais significativa para a Filosofia Clínica esteja entre uma hermenêutica interpretativa e uma hermenêutica compreensiva.

De forma introdutória, a hermenêutica interpretativa (também usada nas abordagens tradicionais da terapia) foca na busca por entender a mensagem com base no que já se sabe sobre o tema. Tem como ponto de partida um saber-poder estabelecido por definições bem construídas, ajustadas e fundamentadas, com base na tradição. Trata-se de um saber cristalizado, que confere ao texto existencial diante de si uma classificação previamente analisada, definida. Características reconhecidas mesmo antes de um encontro se realizar, demonstrando que a expressão do sujeito, de antemão, já está determinada.

Em outras palavras, um fundamento estabelecido para reconhecer no paciente alguma patologia, tendo como referência uma lógica de manual, destituindo a pessoa de seu devir inédito, impregnado de possibilidades, e que poderia transgredir os limites de sua condição em desenvolvimento, não fossem as interpretações do profissional (via agendamentos, distorções).

Talvez, se fosse permitido ao paciente exercitar suas lógicas desconsideradas, cogitar suas hipóteses absurdas, numa interseção libertária, não permitindo ao profissional Psi convencê-lo de que suas verdades e representações constituem alguma forma de loucura, fosse possível uma aproximação com a Filosofia Clínica.

Nesse sentido esclarece Gadamer: “A compreensão jamais é um comportamento subjetivo frente a um objeto dado, mas frente à história efeitual, e isto significa, pertence ao ser daquilo que é compreendido” (Verdade e método, 1997).  

A hermenêutica filosófica, ao contrário, possui como característica uma atitude compreensiva em vias de construção compartilhada. Seu ponto de partida é uma dialética do encontro, uma relação aprendiz. Um saber que tem um não saber como ponto de partida. Aqui precisamos de uma adequação metodológica para fundamentar essa nova abordagem: a Filosofia Clínica. Interseção em que se reivindica, pelo filósofo, um constructo de eterno recomeço, para acolher as narrativas da raridade.

Ainda Gadamer: “Somente através do esquecimento é que o espírito recebe a possibilidade de uma total renovação, a capacidade de ver tudo com os olhos recém-abertos, de maneira que o que é velho e familiar se funde com as novidades que se veem em uma unidade de várias estratificações.” (Verdade e método, 1997).

Com esse novo paradigma, especialmente em alguns trabalhos posteriores aos escritos de Lúcio Packter, é possível encontrar subsídios teóricos e práticos a sua fundamentação e desenvolvimento, como uma terapia da liberdade. Como se sabe, essa nova abordagem, como obra aberta, permanece viva e sujeita a contribuições de quem faz dessa atividade uma prioridade de vida.

É o caso, por exemplo, da importância da hermenêutica compreensiva, como fundamento teórico e prático, especificamente a partir de Hans-George Gadamer em Verdade e método. Essa diferenciação ajuda a compreender a abertura para um acolhimento do fenômeno existencial diante do clínico.

Se um profissional (psiquiatra, psicólogo) aprendeu que a pessoa diante de si é um objeto de estudo sujeito a intervenções, um ser passível de avaliação diagnóstica, prognóstica, de medicalização, então será isso que sua percepção, previamente condicionada, vai enxergar. As pessoas não vão se mostrar, a esse olhar, como algo único, uma singularidade, mas como uma tipologia ou doença, algo a ser medicado, contido pela lógica do hospício e dos psicofármacos. Questão de método em Ciências Humanas!

Gadamer ensina: cautela, respeito, proximidade para com a condição existencial alheia ao mundo como vontade e representação do filósofo. Apresenta a hermenêutica filosófica como possibilidade de se conhecer determinada pessoa em seus dias de ressignificação. Uma atitude compreensiva é qualitativamente diferente do enquadramento tipológico, sendo este a instituição de uma clausura, de uma camisa de força metodológica, que transforma uma pessoa livre e em processo de mudança num objeto, em uma peça decorativa no canto da sala.

Compreender significa estar junto, ao lado, encolher distâncias, aproximar. Entender (epistemologicamente) inclui um distanciamento, uma trama conceitual que se afasta da originalidade do partilhante, como se ele fosse o portador de uma doença contagiosa, e isso deforma sua expressividade, cria obstáculos para acessar sua originalidade. Trata-se de uma relação fria e asséptica.

Anteriormente, em Filosofia Clínica, tínhamos o texto ‘Verdade e método’, de Gadamer, para fundamentar as verdades subjetivas (pré-juízos), como se estruturam, se desenvolvem, se sustentam, delimitando o lugar subjetivo.

No entanto, aqui estamos avançando em direção a outro aspecto desta obra, ou seja, a uma hermenêutica filosófica capaz de efetivar atitudes compreensivas, de estar com o outro em seus desdobramentos existenciais, qualificando as convivências clínicas como instantes de desconstrução, reconstrução, a partir das conjugações e demais possibilidades da terapia.  

Não tomar o seu lugar, mas estar junto, na desmedida em que o partilhante permita visitas ao seu jardim existencial. Aprender a linguagem por onde se diz, seus limites e deslimites, o alcance de sua régua existencial, e tudo que for aparecendo (fenomenologicamente) na dialética dos encontros.

*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica – Anotações e reflexões de um consultório”. Ed. Sulina/Porto Alegre/RS. 2021.

**Instagram: @helio_strassburger

sábado, 21 de outubro de 2023

O segredo das palavras*

A espécie de texto que se tem em mente é uma singularidade. Sua estrutura pressupõe a conjugação, nem sempre linear, entre o horizonte discursivo do autor e sua competência em transgredir as páginas conhecidas. Um peregrino das palavras em busca da fonte onde nascem as intencionalidades. 

Com o vocabulário comum, em alguns casos, será possível realizar aproximações, noutros sequer tangenciar as origens da expressividade: os exílios, desvãos, periferias e derivações. Ao transcrever esses conteúdos, na parcialidade de um texto qualquer, é possível entender a razão dos seus segredos serem indecifráveis por inteiro.

Num processo de escritura, sua concepção descreve algo mais, tendo como ponto de partida uma mente repleta de vírgulas, devaneios criativos, irreflexões. Esses escritos nem sempre serão compreendidos numa só mirada. Seus deslizes, lacunas e desestruturas anunciam algo por vir. São vestígios daquilo que não se consegue acessar num primeiro instante. Uma estrutura assim pensada mescla sonho e realidade em inéditos discursos existenciais. Há que se ter uma peculiaridade metodológica - borogodó - para decifrar o chão de onde partiu e se desenvolveu.

Maurice Blanchot contribui: “(...) Uma frase não se contenta com desenrolar-se de maneira linear; ela se abre; por essa abertura, sobrepõem-se, soltam-se, afastam-se e juntam-se em diferentes níveis de profundidade, outros movimentos de frases (...)”. (O livro por vir, 2005, pág. 347).

Essa condição do autor pode reapresentar eventos marginais, desconhecidos, esquecidos, em sua estrutura de pensamento. Os inusitados usos da palavra ampliam as fronteiras do que se conhece. Uma expressão utilizada num contexto, quando afastada de suas origens, ao ser ela mesma já é outra.

Escrever é conjurar o vocabulário conhecido noutras direções. Um saber com sabor de terra nova acolhe a mensagem nas garrafas do náufrago. Sua condição, ao ampliar um foco de luz errante, emancipa territórios, significa a linguagem dos recomeços. Sua alternância dos métodos de leitura (analítica, fenomenológica, dialética...), evidencia um conhecimento refém de suas crenças, atribuições, competências. Assim pode ser legível esse lugar de exceção de onde o texto partiu.

Maurice Blanchot: “(...) A obra exige que o homem que escreve se sacrifique por ela, se torne outro, se torne não um outro com relação ao vivente que ele era, o escritor com seus deveres, suas satisfações e seus interesses, mas que se torne ninguém, o lugar vazio e animado onde ressoa o apelo da obra.” (O livro por vir, 2005, pág. 316).

O segredo das palavras reside na rasura da página em branco. Quando algo se escreve, atualiza o devir que o legitima, para, logo depois, perseguir novos caminhos. Assim, a perspectiva da literalidade como sentido único, se desconstrói. Seu saber conjuga-se em enredos de realidade substitutiva.

Nesse sentido, os deuses da escritura costumam ser cúmplices no desenvolvimento do espírito. Os achados nas mais diversas fontes de inspiração e estilos literários, costumam adicionar ingredientes à vida de cada um. A paixão dominante de ler e escrever alimenta o fogo dos dias, aquece o frio das alturas, desaloja refúgios subjetivos. As rotas para esse encontro, desconstroem a figura do escritor e do leitor exilados em suas páginas. 

*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica e Literatura – Conversações”. Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2023.

**Instagram: @helio_strassburger 

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

A Filosofia Clínica e o robô de escuta*

O site: www.mittechreview.com.br publicou em janeiro/2022: “Terapeutas podem usar Inteligência Artificial para melhorar os resultados das terapias”. O artigo foi assinado pelo: MIT- technology review.

Inicialmente a proposta é de auxílio ao trabalho clínico do profissional da área PSI. Trata-se de uma pesquisa para saber como a terapia funciona. Uma verificação das linguagens utilizadas na hora clínica. Segundo o artigo: “busca identificar as expressões e devolutivas de resposta mais eficazes no tratamento de diferentes distúrbios”. Oferece uma “automação dos princípios ativos da terapia”.

O projeto se desenvolve em universidades como: Washington e Pensilvânia (EUA), numa parceria da IA – inteligência artificial com a psicologia. Diz assim: “Busca-se desvendar os segredos de porque alguns terapeutas obtêm melhores resultados que outros (...) a tecnologia funciona semelhante a um algoritmo de análise de sentimentos”.

Prossegue afirmando: “a IA converte a linguagem de uma sessão em código de barras (...) busca mostrar quanto tempo foi gasto em terapia construtiva versus bate-papo geral.” Na sequência: “(...) desenvolver um software de terapia para ajudar terapeutas a padronizar as melhores práticas. Propõe monitorar os atendimentos. (...) o algoritmo aprendeu a abordagem da TCC (terapia cognitivo comportamental)”. O artigo fala em: “proporções, taxas, métricas, validação... (...)” indica: “devemos seguir protocolos para evitar improvisos. (...) podemos entrar numa era de medicina de precisão em psicologia e psiquiatria (...)”. A investigação deixa escapar - nas entrelinhas - que as terapias da tradição estão despreparadas para cuidar da vida humana.

A ideia não é nova. Em meados dos anos 1990, em Porto Alegre, um mestrando em análise de sistemas ofereceu algo semelhante. Seu software prometia “diminuir o tempo gasto nos atendimentos”. Segundo ele: “aliviaria o trabalho” dos Filósofos Clínicos. Após algumas entrevistas, o jovem profissional entendeu que nosso método era diferente. Ficou contrariado pelo fato de sua ideia não dar conta da Filosofia Clínica, basicamente, por se tratar de uma abordagem singular, oferecendo uma terapia para cada pessoa, sem a camisa de força das tipologias, classificações, hermenêuticas apriorísticas.  

Nos dias de hoje, ao ver essa hipótese - em nova maquiagem - se reapresentando, com o enorme investimento para viabilizá-la, percebo - mais uma vez - o quanto a Filosofia Clínica é diferenciada. Sob muitos aspectos ininteligível - mesmo a espionagem tecnológica - ao pessoal que procura em blogs, textos da internet, palestras, subsídios para montar suas estratégias. Por outro lado, a partir de uma robotização da hora-clínica, essa iniciativa deverá acelerar a desconstrução das metodologias de base PSI. 

Um olhar atento pode pensar: como replicar eventos singulares, incomuns, como os desdobramentos da hora-sessão em Filosofia Clínica numa linguagem de algoritmos? A nova abordagem terapêutica, ao atuar com pressupostos a posteriori, reivindica um profissional que tenha borogodó (mescla de aptidão, talento, sensibilidade...) para exercitar uma clínica aprendiz. Esse conceito por si só, já interdita a possibilidade de se mapear, criar protocolos, estatísticas, métricas de validação, devido ao caráter inédito dos atendimentos.

O novo paradigma oferece múltiplos fatores que escapam a uma lógica de robôs de conversa. Seu constructo metodológico oferece atenção e cuidados singularizados aos partilhantes, encontrando em seu próprio discurso existencial, uma referência viva, única, irrepetível. Não se presta a ser refém de softwares, algoritmos, código de barras. A pesquisa americana, ao buscar um padrão nas melhores técnicas, engessa e robotiza o cuidado com humanos. Talvez essa proposta sirva a países de vocação colonial.  

A transcrição da linguagem utilizada pelo filósofo clínico com um partilhante, não irá servir para outro atendimento, pois além de cada pessoa ter um uso próprio do seu vocabulário, a qualidade da interseção não é a mesma, e o filósofo efetua ajustes singularizados de acordo com os desdobramentos da hora-sessão. Um software não consegue imitar essa modalidade terapêutica, pois teria de ser um humano com borogodó para intervir em um processo não linear.

Essa tese de padronização comportamental através de um código de barras, para acompanhar sujeitos em seus momentos de ressignificação existencial, além de desumana e perversa, visa a manipulação e o controle da vida humana. Sob muitos aspectos, expõe a fragilidade das técnicas de base PSI.

Noutras palavras, a partir dessa estratégia denominada: “robô de conversa”, as metodologias que trabalham com a bíblia DSM serão reféns da IA e sua programação para mediar atendimentos. A pesquisa americana deverá mostrar, após alguns anos ‘faturando alto’ com suas engenhocas, se tratar de mais uma investida para ‘ganhar tempo e dinheiro’, multiplicando espíritos de rebanho. No caso de bem-sucedida poderá ser o fim da raça humana como espécie.

*Hélio Strassburger

@helio_strassburger (Instagram)

**Texto publicado na edição de outono da revista da Casa da Filosofia Clínica.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Pretéritos Futuros*

"Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas?”

                                                                         Gaston Bachelard                                            

A concepção de um esboço para traduzir ideias em atitudes poderia significar a vida em retrospectiva de amanhãs. Um lugar onde se alcançaria a fonte da imaginação a inundar a vida com seus originais.

A linguagem do futuro pretérito busca superar a antítese entre o vivido e sua descrição. Existem pessoas aprisionadas nalguma página de suas vidas. Em uma dialética entre passado, presente e futuro, nem sempre conseguem realizar uma desconstrução de qualidade, capaz de alterar aquilo que já passou. Não é comum transitar com leveza, desenvoltura entre um lugar e outro de sua historicidade.

Partindo do viés singular, numa percepção reflexiva da realidade plural, é possível desconstruir as ideias conhecidas. Permitir o acesso ao novo vocabulário, dado atual sobre as antigas verdades. Nesse sentido, exercitar a flexibilidade existencial pode ajudar, deixando-se surpreender com os eventos de transgressão.

É possível desfocar a atenção, permitir outros movimentos à intencionalidade. Um ensaio para anunciar instantes de reencontro, uma nova versão existencial. Entrementes, o ponto de vista subjetivo costuma ser impactado por aquilo que vê, ouve, sente, vivencia, adaptando roteiros em uma lógica de porvir retroativo.

Talvez ao reconsiderar as miragens do instante, possa-se conceber a aproximação de um embate da ilusão de continuidade com sua ruptura pelo viés do fato novo. Na representação de cada um, a especulação sobre os novos endereços existenciais pode reajustar reminiscências.

Com as lógicas do improvável, através da palavra fora de si, é possível descrever exílios, realizar utopias, acolher singularidades. Um roteiro pela natureza incrível de todas as coisas, por onde se insinua uma arte de desvendar horizontes, resgatar dialetos marginais.

Nesse vão das idas e vindas, a conjugação revive um tempo que ainda não chegou. Uma semiose dos múltiplos jogos de linguagem. Esta aprendizagem com a voz dos rascunhos sugere um quase delírio. Numa estrutura fugaz, refugiada nas entrelinhas do cotidiano, é possível ser a incompletude a essência de viver.

*Hélio Strassburger in “A palavra fora de si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed. Multifoco/RJ. 2017.

domingo, 1 de outubro de 2023

Introdução*

Os textos a seguir constituem uma noção e um convite à Filosofia Clínica. São constituídos de anotações e reflexões de um consultório em seus dias de atenção à vida. Notas para atualizar o discurso do novo método. Uma aproximação com a incompletude dos processos existenciais em cada pessoa, num vislumbre de seu desenvolvimento na atividade clínica.

Existem fundamentos que se integram à terapia do filósofo, como a fenomenologia dos discursos existenciais, pelos quais o partilhante descreve-se em versão própria, num convívio com as rotinas do inesperado; a hermenêutica compreensiva; o exercício da reciprocidade com os jogos de linguagem internados em cada um, permitindo acessar a singularidade em seus dias de processo; bem como o estruturalismo, a considerar e incluir a relação das partes com elas mesmas e o todo que a constitui. Uma dica para acessar a chave de leitura da estrutura de pensamento é identificar pro onde a pessoa se diz, qual sua semiose preferida.

A reconstituição de determinados eventos passados, com base numa leitura atual, concede ao sujeito partilhante a possibilidade de reescrever sua história. Cuida-se, entre outros aspectos, da reconstrução de alguns momentos significativos, em que o ser filósofo clínico se multiplica no acolhimento e na superação das contradições, tecendo seus dias numa interseção aprendiz. Sua prática oferece uma clínica da não obviedade. Ao acolher as vírgulas e reticências da singularidade, leva em conta as narrativas de cada versão. Se tivesse de escolher uma proposta de trabalho, numa terapia libertária, esta seria a busca do partilhante em recomeçar, para devolver o protagonismo a um sujeito, até então, distante de seu melhor. As tramas discursivas de consultório, no ir e vir das interseções, possuem a condição para realizar inúmeros deslocamentos, oferecendo ao partilhante outras vivências – uma estética para resgatar ângulos esquecidos, desconhecidos de si mesmo.

Seu eixo metodológico reconhece e acolhe as tratativas de emancipação das poéticas da singularidade, refugiadas em cada discurso existencial. Antes de localizar alguém existencialmente, pode ser preciso lidar com a inquietude dos momentos preliminares. São ensaios para algo indecifrável por inteiro, em que o filósofo clínico convive com uma estrutura de fenômenos multifacetados.

Ao filósofo compete aperfeiçoar sua aptidão de sentir e perceber os rastros do instante precursor, nos quais se apresentam as originalidades sob seus cuidados. Esse esboço compartilha análises, reflexões, críticas e algo mais sobre sua atividade. Talvez um diário de incompletudes, em que suas narrativas apresentam íntima relação com as práticas de consultório.

Com essa abordagem, a polifonia das crises anuncia sua transição entre um e outro padrão autogênico. Constitui o fenômeno da desrazão em um território privilegiado ao fazer terapêutico do filósofo. Esse estado de coisas costuma se apresentar numa dialética singular, em que o partilhante se desloca e experimenta-se em muitas direções conhecidas e/ou desconhecidas, num processo de reedição pessoal, conduzindo e atualizando sua memória aos dias atuais, formando uma espécie de renascimento a cada novo dia.

A abertura proporcionada pela via da interseção realiza um encontro de qualidade imprevisível, em que o vocabulário existencial pode ampliar-se. Ao decifrar a matéria-prima com a qual irá trabalhar, o filósofo, pela via da construção compartilhada, terá a possibilidade de localizar o território em que realidade e ficção se integram.

Seu constructo metodológico, tendo como ponto de partida a redução fenomenológica, vislumbra uma região de aspecto estranho. Quando um filósofo descreve essa observação investigativa, está propondo compreender e dialogar com o contexto partilhante. Nesse sentido, a nova abordagem possui uma representação diferenciada do fenômeno humano; as pessoas passam a ter nome, sobrenome, uma história de vida singular, linguagem própria, expressividade peculiar, estabelecendo um abismo com as lógicas da tipologia, da classificação desumana dos manuais psiquiátricos, os quais, ao oferecer diagnósticos, prognósticos, curas, normalidades, destituem a pessoa de seu ser sujeito em ação.

Este texto não é autobiográfico, embora seja reconhecível o traço da autoria em suas crenças, buscas e representações no curso de seu discurso. Reivindica, isso sim, oferecer uma atualização de leituras, contribuição aos estudos e o desenvolvimento do novo modelo terapêutico. Essa versão é a de quem teve o privilégio de conhecer e conviver com seu nascimento, por meio dos primeiros atendimentos, das críticas, de preconceitos, da conjugação dos sonhos e da sua proposta para oferecer algo diferenciado: a superação do entendimento cristalizado pelas instituições oficiais.

Talvez a dificuldade de alguns especialistas acadêmicos de entender a abordagem da Filosofia Clínica resida no grau do seu óculos epistemológico, o qual costuma embaçar diante de novidades muito próximas do olhar. Ao visitar a perspectiva de alguns mestres universitários, é possível compreender suas dificuldades com os novos paradigmas, e isso pode ser compreendido por um exemplo: o novo método acolhe, em sua matriz teórica e prática, filosofias tão díspares e – aparentemente – contraditórias, como a Fenomenologia e a Analítica da Linguagem. Logo, é impossível entender esse fundamento tendo a visão ajustada para reconhecer sempre as mesmas verdades.

Um caminho para acessar os universos singulares, é desenvolver a atitude de espanto diante dos fenômenos que se apresentam, observando e investigando, para saber mais. É, também, compreendê-la como uma abordagem clínica em deslocamento, que se move por várias etapas do constructo metodológico, associando fundamentos que, teoricamente, seriam irreconciliáveis, se entendidos como gavetas. Na prática da Filosofia Clínica, se conjugam horizontes na dialética das sessões.

Fico pensando nas dificuldades que eu teria se tivesse optado por alguma outra formação clínica, talvez impregnada de classificações, tipologias, agendando patologias, a partir de uma leitura predeterminada que desqualifica conteúdos inéditos, presentes nas narrativas das pessoas, pelo foco de certo saber que, antecipadamente, já tem seu eixo interpretativo definido, distorcendo o fenômeno humano singular.

Em Filosofia Clínica se (re)conhece e há a prática de algo diferente, ou seja, a matéria-prima com a qual se trabalha é encontrada no contexto partilhante, a partir das visitas autorizadas aos seus jardins subjetivos. Um lugar inicialmente desconhecido, no qual o filósofo precisa ajustar seu padrão autogênico e ultrapassar os limites da primeira impressão, aguçando sua escuta, visão e percepção de base fenomenológica para acessar os jogos de linguagem de cad partilhante, qualificando a interseção em busca de sua originalidade e reverenciando a prosa poética desses pretextos desmerecidos. Assim é possível constatar e compreender o ser inacessível como uma das qualidades da subjetividade, classificada pelas terapias da tradição nalguma forma tipológica, desvirtuando a atividade clínica.  

Nesse vislumbre da clínica do filósofo, há a descrição de um papel existencial singular, o qual se ajusta - caso a caso – nos eventos de consultório. Um lugar de acolhimento às pronúncias daquilo, até então, desmerecido, que revela um protagonismo de si mesmo com os outros e, dos outros, com outros. Através da interseção cuidadora se esboça certa elaboração, pela qual se faz possível a ressignificação pessoal. E é importante o preparo para uma convivência com o inesperado dos atendimentos, semelhante a encontros em qualquer lugar, em um dia qualquer.

A proposta terapêutica esboçada nestas páginas se traduz em um lugar de acolhimento à errância, à desestruturação pessoal, como possibilidade de reescrever caminhos e integrar o sujeito com o seu melhor. Significa qualificar a intervenção cuidadora, em um chão oferecido pelo próprio partilhante. Me agrada saber que tenho meios, via construção compartilhada, para contribuir com a caminhada existencial das pessoas, seja pelos recursos identificados em sua estrutura de pensamento ou elaborados para seu melhor funcionamento pessoal. Posso encontrar nas palavras pronunciadas, caladas, uma fonte de múltiplas expressões, pela qual se estabelece a cumplicidade aos rascunhos do partilhante. Um desses subterfúgios em que a vida ensaia seus inéditos.

A clínica pode ser reconhecida como um espaço para compreender uma incompletude discursiva, ou uma crise, características importantes aos recomeços. As pessoas aprisionadas em manicômios ou em outra forma qualquer de interdição, possuem uma estranha habilidade para rasurar o quadro da normalidade, muitas vezes pelo simples fato de existir. Uma nova referência e um novo contexto podem ajudar as pessoas exiladas do convívio social, oferecendo uma zona de conforto existencial mais próxima de si próprias, e que consiga que exercitem sua condição singular irrepetível.

Nesse sentido, o livro reapresenta alguns fundamentos do novo paradigma, desde os primeiros anos até hoje. Os atendimentos iniciais, as repercussões nos princípios de verdade, as críticas e superações, os aprendizados, são essenciais para entender seu nascimento e desenvolvimento. As páginas a seguir propõem qualificar práticas e contribuir com a pesquisa e os processos de conhecimento. Nelas se pode, dentre outras coisas, decifrar os fenômenos da atividade clínica, em que eu e o outro, pela via da interseção, constituem algo mais.

É importante lembrar de que não se aprende Filosofia Clínica com textos (de fonte duvidosa) na internet, os quais estimulam equivocidades e desconhecimento, ou seja, um não saber. O convívio entre professor-auno é indispensável ao processo de ensino-aprendizagem, e as boas ferramentas da tecnologia podem ser uma base aos estudos.  

A proposta, aqui, é diminuir o número de ignorantes diplomados. Para além das aulas da especialização, após a graduação em Filosofia, destaca-se a adição de leituras, filmes, grupos de estudo, colóquios e cafés filosóficos clínicos, terapia pessoal e supervisão. E esta concepção é realidade na Casa da Filosofia Clínica.

Com esses textos, são oferecidos alguns manuscritos recuperados das múltiplas interseções entre calmaria e tempestades. Uma descrição de nuances de acolhimento e cuidado com o ritmo das estações de cada um, seus desdobramentos, as singularidades e a inédita condição de redigir seus originais. Quiçá seja um convite para as pessoas saberem mais sobre a clínica do filósofo.

Boas leituras e releituras!

*Hélio Strassburger in Introdução a obra: “Filosofia Clínica – Anotações e reflexões de um consultório”. Ed. Sulina/Porto Alegre/RS. 2021.   

** Instagram: @helio_strassburger

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Para saber aquilo que se conhece*

  

“Se duvido, penso. Penso logo existo”

                   René Descartes 

Um dos aspectos mais importantes da epistemologia são as derivações, contornos e sua aptidão de inventar e manter interseção com o mundo ao seu redor. Com eficácia de multiplicar desenlaces e engendrar novas formas de racionalidade, destaca-se ao descrever e analisar os eventos que a integram.

Sua investigação analítica transita entre a matéria-prima da experiência compartilhável e a organização interna de cada pessoa. Para entendê-la melhor a introspecção e as vivências podem ajudar. Nesse tópico é possível entender o pensar sobre as coisas a partir dos desdobramentos da estrutura do próprio pensar. Uma reflexão a descobrir algo mais sobre si mesma.

Até os simulacros da realidade podem ser desvendados por essa via precursora do conhecimento. Sua expansão acontece na relação entre atitudes especulativas, dúvidas e as provisórias certezas.

No esboço sobre si, o viés racional desliza para contornos desconhecidos. Muitas vezes as restrições são oferecidas pela própria subjetividade em busca de saber mais. Essa atitude, quando determinante, elabora âncoras para se deslocar com alguma segurança pelo universo ao seu redor.

Seu enfoque, embora possua um caráter de maior abstração, revela um observador atento às tratativas de discriminar com objetividade os fenômenos do viver. Sua atenção evidencia perspectivas inusitadas ao próprio olhar.

No entanto, suas conjecturas podem restringir os esforços para descortinar o que lhe ofusca a visão. Kant na “Crítica da razão pura” compartilha essa faceta do humano: “não possuo nenhum conhecimento de mim como sou, mas apenas de como apareço a mim mesmo”. (Crítica da razão pura, 1983, pág. 95).

O pensamento possui arquiteturas por onde a singularidade se objetiva para se familiarizar consigo mesma, encontra subsídios na linguagem cotidiana e propõe capturar as múltiplas facetas, para reconhecer o mutante da janela em frente.

Nas hermenêuticas para identificar e registrar as tramas discursivas, sua natureza se refugia entre devaneios de segurança, comprovação, onde uma lógica de ver para crer costuma valer mais. Uma vida inteira pode ser vivida na predominância desse tópico estrutural. Sua disposição atenta, embora parcial, sobre o próprio funcionamento, lhe atribui uma perspicácia de ser provável.

Ainda quando inexplicável ao próprio olhar, refere dúvidas, elenca hipóteses e ensaia experimentações. Rituais em conformidade com a matriz determinante do entendimento e sensibilidade. Necessita realizar escolhas e explicar o mundo com a régua sagrada dos próprios juízos. Aproxima-se com reverência dos fatos inexplicáveis.

Para Schopenhauer essa questão assim aparece: “(...) o conhecimento, em geral, faz ele mesmo parte da objetivação da vontade considerada nos seus graus superiores, que, aliás, a sensibilidade, os nervos, o cérebro são, do mesmo modo que nas outras partes do ser orgânico, a expressão da vontade considerada nesse grau de objetividade. (...) a representação que daí resulta é igualmente destinada ao serviço da vontade como meio para chegar a um fim (...)”. (O mundo como vontade e representação, 2001. Pág. 185).

É vastíssimo e nem sempre possível averiguar corretamente o território da Filosofia. Mesmo com algumas igrejas a reivindicar para si a fé cega na razão discursiva, àquela parece se divertir aod escortinar sempre novos pontos de vista.

Assim a brisa agradável não seria uma complexidade difícil de entender, mas aproximaria ideia e sensação, para conceder sabor e cor às coisas ao redor. Nesse sentido, seu devir também aponta uma interminável combinação das incógnitas e esconderijos exilados em cada um. O ar distante da postura ensimesmada parece desconhecer as armadilhas da própria certeza. Acaba encontrando aquilo que já sabia existir.

Ernst Cassirer sustenta: “A tarefa do conhecimento consiste em refletir e reproduzir a essência das coisas”. (A filosofia das formas simbólicas, 2001. Pág. 188).

Sei viés de cegueira, muitas vezes, não consegue ver diante de si mesma. Aprecia destacar a contradição e os erros das outras verdades e, ao inspecionar o próprio aparato, pode não reconhecer as diferenças entre os imbróglios subjetivos e a vida lá fora. Sua análise costuma incorporar protocolos de repetição para discriminar e orientar seu mundo. As leituras e releituras devem ter coerência, sensatez e método.

Sua teia argumentativa se expõe para anunciar e corrigir desacordos. Essas influências costumam surgir em tópicos como: raciocínio, discurso, termos agendados e pré-juízos. Em Merleau-Ponty é possível outro olhar: “O segredo do mundo que procuramos é preciso, necessariamente, que esteja contido em meu contato com ele”. (O visível e o invisível, 1999. Pág. 41).

O esclarecimento contido nessa forma de pensar aprecia descrições minuciosas, fundamentação e coerência retórica. Ao observar p funcionamento e o resultado de seus registros, é possível interpretar melhor a própria estrutura.

A racionalidade embriagada pelo excesso de si mesma pode se desconcertar exatamente por ter razão. Uma espécie de cegueira tópica a se estruturar nos desatinos da própria visão, a qual descobre aquilo que já suspeitava existir.

A consciência das coisas pode elaborar múltiplos disfarces. Quase sempre constitui um vocabulário próprio, nem sempre possível de traduzir. Ao estar à deriva de si mesma sua coerência e sensatez podem explodir em mil pedaços, esparramando indícios para outros caminhos.

O discurso ideologizado aprecia destituir a singularidade do sujeito para aprisioná-lo na incabível universalidade. Ao tentar incluir tudo na ótica de regra e exceção, comprova o desconhecimento sobre seus limites estruturais.  

*Hélio Strassburger in “Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável”. Editora Sulina. Porto Alegre/RS. 2012.

**Instagram: @helio_strassburger

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Literatura e singularidade***

Ao tecer algumas considerações sobre o fenômeno da leitura, se destaca a interseção entre autor, leitor. A natureza desse envolvimento se apresenta na especificidade de um encontro, inédito a cada página. Os desdobramentos desses achados, prosseguem no cotidiano leitor, o qual, regressando de suas visitas ao enredo da obra, sendo o mesmo já é outro.   

Escrever sobre uma fonte de originais e a diversidade de leituras, propõe uma reflexão sobre a vida de cada um, o que permanece e aquilo que se modifica, no contato com um livro. Que estranha sintonia faz o leitor escolher um texto?  Quando alguém o destaca numa biblioteca ou livraria, a partir de uma indicação, prefácio ou orelhas, delimita, sob muitos aspectos, o que poderá encontrar.   

Em Rubem Alves: “Tinha de ser uma palavra mágica, pois ela tinha de ter o poder de trazer à existência aquilo que não existia.” (Lições de Feitiçaria, 2003).   

Uma obra literária, pode oferecer conteúdo para elaborações de longo alcance. As cenas de um livro, costumam invadir o dia a dia de seus leitores. A literatura oferece uma via de acesso a existência incomum. Numa exploração compartilhada entre autor e leitor, é possível vislumbrar uma singularidade em vias de reescrita. 

As tramas da narrativa convidam a uma percepção de si para si mesmo. Acolhendo ou refutando ideias, um texto instiga a pluralidade de movimentos intelectivos. A experiência da leitura, oferece uma integração entre real e irreal, destacando aquilo que já existia como possibilidade.   

Ricardo Piglia recorda Borges: “Talvez o maior ensinamento de Borges seja a certeza de que a ficção não depende apenas de quem a constrói, mas também de quem a lê”. (O último leitor, 2017). 

A interseção da literatura com a singularidade, retira sua matéria-prima do encontro do leitor com o texto. A leitura, na vida de cada pessoa, se apresenta como opção as lógicas de contenção da expressividade. Em Filosofia Clínica, contraditória com a ditadura das tipologias, a camisa de força dos psicofármacos, a caneta alienista; o conceito de singularidade encontra um método para sua abordagem, tendo como referência a noção de que cada pessoa é um ser único, irrepetível. 

As narrativas de um texto oferecem ao leitor, rotas de acesso a sua farmácia interior. Nesse sentido, as práticas literárias podem significar uma terapia da libertação. Um desacordo com o olhar pré-determinado a enxergar delírio e loucura, onde se ensaiam projetos existenciais incompreendidos. 

*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica e Literatura – Conversações”. Ed. Sulina/Porto Alegre/RS. 2023. 

**No Prelo.


sábado, 9 de setembro de 2023

O Texto e a Vida*

Em uma obra de essência inacabada, a pluralidade discursiva, nem sempre coerente e recheada com algum tipo de fundamentação, exibe capítulos de uma subjetividade em vias de acontecer.

Nessa arquitetura de palavras, a versão dos rascunhos se inicia na multidão improvável dos sentidos sem tradução. Por esse não-lugar se alternam pronúncias da voz na palavra escrita. Um apurado senso de irrealidade parecer tomar conta da estrutura narrativa.

Ao (re)nascer de cada pessoa uma nova obra se inicia. As lógicas da incompletude ampliam as chances para descrever o infindável movimento da vida. Sua eficácia institui novos parágrafos existenciais e se oferece como possibilidade inadiável de reescritas.

A autoria, em sua singularidade, esboça um cotidiano de páginas inéditas. A letra parece querer anunciar, desvendar, transgredir cotidianos em roteiros de inconclusão. Uma estranha alquimia ressoa no desajuste das entrelinhas. Como uma literatura que se esboça aos sons do silêncio, das dúvidas sobre a expressividade dos eus possíveis.

O paraíso onde a linguagem se desenvolve é um imenso território que aguarda. Seu dicionário de páginas em branco é um chão para compor o que vier. Nessa arquitetura de alegorias se insinuam outras paragens, como a ilusão das noites a brincar os dias.

Uma poesia interminável se esparrama nas páginas vividas em porvir. A reflexão especulativa tenta imaginar os dialetos impronunciáveis. O sobressalto do texto refugiado no cotidiano se esboça numa estética quase ilegível. Seus manuscritos apontam vestígios de algo mais ao integrar sim e não. A literalidade, embora não diga tudo, realiza uma aproximação com a perspectiva das fontes. As derivações ampliam versões subentendidas para visualizar utopias.

A textura desses testemunhos se oferece ao nascer sem palavras. Em dialeto próprio refere seus exílios num presente difuso. O percurso assim mencionado aprecia descrever, em termos de intimidade, a paisagem desmedida pelos deslocamentos. A interseção entre o texto e a vida acena novos refúgios ao teor discursivo. Nessa página impregnada de originais, autores e leitores reescrevem sua história.

*Hélio Strassburger in “A Palavra Fora de Si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed. Multifoco/RJ. 2017.   

**Instagram: @helio_strassburger