Ao tecer algumas considerações sobre o fenômeno da leitura, se destaca a interseção entre autor, leitor. A natureza desse envolvimento se apresenta na especificidade de um encontro, inédito a cada página. Os desdobramentos desses achados, prosseguem no cotidiano leitor, o qual, regressando de suas visitas ao enredo da obra, sendo o mesmo já é outro.
Escrever sobre uma fonte de originais e a diversidade de leituras, propõe uma reflexão sobre a vida de cada um, o que permanece e aquilo que se modifica, no contato com um livro. Que estranha sintonia faz o leitor escolher um texto? Quando alguém o destaca numa biblioteca ou livraria, a partir de uma indicação, prefácio ou orelhas, delimita, sob muitos aspectos, o que poderá encontrar.
Em Rubem Alves: “Tinha de ser uma palavra mágica, pois ela tinha de ter o poder de trazer à existência aquilo que não existia.” (Lições de Feitiçaria, 2003).
Uma obra literária, pode oferecer conteúdo para elaborações de longo alcance. As cenas de um livro, costumam invadir o dia a dia de seus leitores. A literatura oferece uma via de acesso a existência incomum. Numa exploração compartilhada entre autor e leitor, é possível vislumbrar uma singularidade em vias de reescrita.
As tramas da narrativa convidam a uma percepção de si para si mesmo. Acolhendo ou refutando ideias, um texto instiga a pluralidade de movimentos intelectivos. A experiência da leitura, oferece uma integração entre real e irreal, destacando aquilo que já existia como possibilidade.
Ricardo Piglia recorda Borges: “Talvez o maior ensinamento de Borges seja a certeza de que a ficção não depende apenas de quem a constrói, mas também de quem a lê”. (O último leitor, 2017).
A interseção da literatura com a singularidade, retira sua matéria-prima do encontro do leitor com o texto. A leitura, na vida de cada pessoa, se apresenta como opção as lógicas de contenção da expressividade. Em Filosofia Clínica, contraditória com a ditadura das tipologias, a camisa de força dos psicofármacos, a caneta alienista; o conceito de singularidade encontra um método para sua abordagem, tendo como referência a noção de que cada pessoa é um ser único, irrepetível.
As narrativas de um texto oferecem ao leitor, rotas de acesso a sua farmácia interior. Nesse sentido, as práticas literárias podem significar uma terapia da libertação. Um desacordo com o olhar pré-determinado a enxergar delírio e loucura, onde se ensaiam projetos existenciais incompreendidos.
*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica e Literatura – Conversações”. Ed. Sulina/Porto Alegre/RS. 2023.
**No Prelo.
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