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historicidade das publicações

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Pretéritos Futuros*

"Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas?”

                                                                         Gaston Bachelard                                            

A concepção de um esboço para traduzir ideias em atitudes poderia significar a vida em retrospectiva de amanhãs. Um lugar onde se alcançaria a fonte da imaginação a inundar a vida com seus originais.

A linguagem do futuro pretérito busca superar a antítese entre o vivido e sua descrição. Existem pessoas aprisionadas nalguma página de suas vidas. Em uma dialética entre passado, presente e futuro, nem sempre conseguem realizar uma desconstrução de qualidade, capaz de alterar aquilo que já passou. Não é comum transitar com leveza, desenvoltura entre um lugar e outro de sua historicidade.

Partindo do viés singular, numa percepção reflexiva da realidade plural, é possível desconstruir as ideias conhecidas. Permitir o acesso ao novo vocabulário, dado atual sobre as antigas verdades. Nesse sentido, exercitar a flexibilidade existencial pode ajudar, deixando-se surpreender com os eventos de transgressão.

É possível desfocar a atenção, permitir outros movimentos à intencionalidade. Um ensaio para anunciar instantes de reencontro, uma nova versão existencial. Entrementes, o ponto de vista subjetivo costuma ser impactado por aquilo que vê, ouve, sente, vivencia, adaptando roteiros em uma lógica de porvir retroativo.

Talvez ao reconsiderar as miragens do instante, possa-se conceber a aproximação de um embate da ilusão de continuidade com sua ruptura pelo viés do fato novo. Na representação de cada um, a especulação sobre os novos endereços existenciais pode reajustar reminiscências.

Com as lógicas do improvável, através da palavra fora de si, é possível descrever exílios, realizar utopias, acolher singularidades. Um roteiro pela natureza incrível de todas as coisas, por onde se insinua uma arte de desvendar horizontes, resgatar dialetos marginais.

Nesse vão das idas e vindas, a conjugação revive um tempo que ainda não chegou. Uma semiose dos múltiplos jogos de linguagem. Esta aprendizagem com a voz dos rascunhos sugere um quase delírio. Numa estrutura fugaz, refugiada nas entrelinhas do cotidiano, é possível ser a incompletude a essência de viver.

*Hélio Strassburger in “A palavra fora de si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed. Multifoco/RJ. 2017.

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