O pretexto itinerante se aloja nas entrelinhas de um cotidiano sem tradução. Seu viés de pluralidade parece aproveitar o olhar cristalizado na representação, para apontar a multidão de eventos ofuscados à primeira vista.
Seu dizer de aspecto insensato
aprecia os jogos de linguagem para ir além de si mesma. Rascunhos atualizam a
busca pela decifração desses códigos, emaranhados num álibi imperfeito. A
leitura de um mundo sem palavras reivindica o olhar visionário da
filosofiapoesia.
A fenomenologia acolhe essa busca
de descrição, as analíticas tentam entender as hermenêuticas do desassossego em
uma questão que se renova. Sua aparência insignificante aprecia conter a
palavra insatisfeita. As crônicas do cotidiano parecem querer dar voz ao
sabor-saber das ruas, das estradas. Lugar onde o ponto de vista da convicção se
encontra perdido.
Nesse vaivém dos exploradores sem
direção, as armadilhas costumam se esparramar como certeza, classificação. Em
situações de risco pode valer mais o relato das margens, miragens, intuições.
As páginas irrealizadas podem anunciar suas visões num vocabulário estranho.
É impreciso desenvolver
habilidades de escuta, observação cautela, diante do fenômeno preliminar. Ao
ser presente na retórica imperfeita, sua expressividade impregnada de amor e
dor não permite uma leitura apressada. Pronúncia da singularidade indizível a
querer compartilhar fontes desmerecidas, como a lucidez presente em toda loucura.
Seu idioma estrangeiro a
percorrer a língua nativa faz referências ao absurdo de onde partiu. Aquele
algo mais ainda sem vocabulário se oferece na palavra strip-tease, a
pluralizar os encontros entre aturo e leitor. Talvez assim aproximar o verso
mais que perfeito dos excessos de si mesmo.
Os eventos contidos no texto
ultrapassam os limites do traço. Um esboço percorre seus espaços em branco a
pensarescrever ressonâncias a derivar muros desconstruídos, reconstruídos, num
lugar onde as poéticas da singularidade anunciam pérolas imperfeitas.
Atores principais e coadjuvantes,
ora um, ora outro, se misturam na multidão dos refúgios. Apreciam o olhar do
horizonte e a brisa leve dessa espécie sem nome, um pouco antes de ser
inspiração. As tonalidades dessa reciprocidade podem ser refém das alegorias
exuberantes. Para homenagear essa fantástica lógica das raridades, é possível
recorrer à ênfase dos contos de fada. Ao olhar assim descrito, onde antes só se
viam muros e paredes vazias, se oferecem vislumbres de janelas e portas.
Uma inédita mensagem parece se
renovar, diante das releituras, decifrações do texto. Talvez sua lógica consiga
tradução nos contornos da mente cotidiana. Interseção onde ser e não ser se
encontram.
A voz da palavra rarefeita
ultrapassa uma só leitura, se desenha numa estética própria e vai além. Sua
alquimia refere eventos a afrontar os limites da razão. Sem ter uma só versão,
ao lhe ser imposta uma lógica cristalizada, escapa por entre os dedos. Não se
trata de corrigir os inéditos borrões, seu significado costuma ter amanhãs
internados na subjetividade por vir.
*Hélio Strassburger in “Pérolas
Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável”. Ed. Sulina.
Porto Alegre/RS. 2012.
****Instagram: @helio_strassburger