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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Clarividências*

                          

Existem eventos onde é possível se antever o que ainda não é. Em uma atividade a priori de caráter instintivo, nem sempre cabível nalguma racionalidade, atuam como uma premonição ou mediação sem palavras. Seu teor de caráter difuso ultrapassa o aqui-agora conhecido. Um futuro imperfeito se antecipa num viés instintivo singular.

Seu teor de anúncio esparrama-se com os termos agendados no intelecto. O rumor clarividente desorganiza hábitos enraizados, desestrutura a vida mecânica do dia a dia. Os vestígios dessa visão inesperada suspeitam de algo por vir. Perplexidade diante de uma integração entre passado, presente, futuro.

A maioria desses fenômenos se dá numa interseção distorcida com suas circunstâncias existenciais. Sua tez se aproxima de algo a preencher lacunas, até então imperceptíveis. Uma atenção sensitiva pode significar esses instantes como pressentimentos. Nesses casos, a epistemologia se parece com um microscópio ao contrário.

Nessa matriz subjetiva é possível encontrar rastros de porvir. Aquilo que ainda vai chegar pode se insinuar em sonhos, devaneios, novas ideias. Esses pretextos de consciência alterada escolhem a singularidade capaz de um acolhimento.

Ao mencionar essas nuances, a natureza compartilha um dialeto próprio. Essa lógica fora de si pode emancipar aspectos desconsiderados. No entanto, quando for plenamente visível ao olhar das palavras bem resolvidas, já será outra coisa.

Assim, pode-se arriscar uma sensação preliminar sobre essa novidade. Um lugar de encontro entre saber e não-saber. Nessa conversação de essência ainda sem existência, parece avistar-se uma mescla de um aqui-agora com seu amanhã. Sua menção, um pouco antes de ter visibilidade, inaugura uma quase verdade, um resquício de algo mais.

O evento clarividência não cabe numa ótica habitual. Sua originalidade se abriga no silêncio das coisas esquecidas. Talvez sua maior ameaça seja a capacidade de rasurar fronteiras, desajustar certezas, apontar novos espetáculos existenciais.

*Hélio Strassburger in “A Palavra Fora de Si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed. Multifoco/RJ. 2017.  

**Instagram: @helio_strassburger 

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