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historicidade das publicações

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Refúgios na estrutura do tempo***

  

Quem instaura vigor, o criador que alcança o não-dito, que irrompe no não-pensado, que conquista o não acontecido e faz aparecer o não-visto, um tal instaurador de vigor está sempre em risco.”

                                                                                          Martim Heidegger 

Recomeço entremeios de subterfúgios na estrutura do tempo. Revelação sutil das (im)permanências. Situação qualquer na interseção com olhares da diversidade perspectiva. Um estrangeiro constitui-se em território próprio, descortinando-se absurdos de tudo u nada. Tratativas em decifrar os segredos nos percursos de brevíssimo existir. Um depois de amanhã articula-se na conversação com o pretérito imperfeito das (des)continuidades. Insinuação em aparência (doxa) pela antes e depois de qualquer coisa.

Enredos de múltiplas faces divertem-se em achados e perdidos contornos. Disposição pelo indizível em natureza de efêmeras memórias. Um começo sem fim em quase-tudo efetiva o ímpeto das raras fontes. Descobertas de saber impreciso num mundo sempre outro. Provisórios acordos com as químicas do sono podem deixar uma sensação de incompletude nas retrospectivas de aspecto indecifrável.

Umberto Eco sobre a multiplicidade hermenêutica: “Das estruturas que se movem àquelas em que nós nos movemos, as poéticas contemporâneas nos propõem uma gama de formas, que apelam à  mobilidade das perspectivas, à multíplice variedade das interpretações. Mas vimos também que nenhuma obra de arte é realmente “fechada”, pois cada uma delas congloba, em sua definitude exterior, uma infinidade de “leituras” possíveis.” (A Obra Aberta, 2005).

Uma espécie de feitiço do tempo institui suas leis em recordações de permanecer modificando-se. Agora sempre outro no ir e vir da história de cada um. Matéria-prima para um aproximar reflexivo (techne) com o incomum dessas travessias. Estranhos fenômenos apreciam o refúgio no todavia-contudo (aporia) das ocasiões. Aguardam um flagrante no cotidiano decifrar dos novos endereços, investigação corrente por entremeios de lugar incerto. Metafísica das contínuas manifestações elabora desígnios de reciprocidade com os mutantes contextos. Primitivas representações em novidade de não-ser um tempo qualquer.  

Especulação das possibilidades na intimidade de Chronos. Elaboração em linguagem própria a buscar refúgio no incomunicável devir. Nesses esconderijos articulam-se conjecturas em desdobramentos de entretanto. Singular preparação na híbrida relatividade dos contextos. Categoria presente na descontinuidade de cada instante revela-se nas miragens de (quase) perder de vista. Horizontes por onde aprecia (des)aparecer. Um viver contido re-inaugura-se na insanidade normalizada dos dias.

Michel Foucault no recordar Paracelso: “Não é vontade de Deus, que o que ele cria para o benefício do homem e o que lhe deu permaneça escondido (...). E ainda que ele tenha escondido certas coisas, nada deixou sem sinais exteriores e visíveis com marcas especiais – assim como um homem que enterrou um tesouro marca a sua localização a fim de que possa reencontrá-lo.” (História da loucura, 2000).

Uma reflexão contínua persegue o invisível andarilho por seus inúmeros disfarces. A ilusão de perceber-se sempre o mesmo pode antecipar uma concepção de expressividade sem medida. Múltiplas investigações procuram manter interseção com a natureza fugidia desse absurdo (logos) presente nos fenômenos. Vereda de extraordinários achados sugere estar sempre em outro lugar.

A saudade de um tempo que se foi (re)-significa sua permanência na memória do coração. Assim, ao vislumbrar as páginas do velho álbum, a recordação atualiza aquilo tudo que vivia muito bem sendo esquecido. No entanto, costumam ser as novas vivências a medicação mais poderosa. A interseção com inéditos amanhãs antecipa-se em promessas de ser real.

Nietzsche em busca de descrever esse estranho espécime – o filósofo: “O filósofo é uma das maneiras pela qual se manifesta a oficina da natureza – o filósofo e o artista falam dos segredos da atividade da natureza. (...) Eles e a arte ocupam o lugar do mito que está desaparecendo. Contudo, eles surgem muito adiantados, já que a atenção de seus contemporâneos só muito lentamente se volta para eles.” (O livro do filósofo, 2001)   

Talvez o diálogo com esses imediatos vestígios, possa (des)ocultar um agora em desdobramentos de pouco antes ou logo depois. Magia a esconder-revelar indícios de algo mais por entre lacunas de estranhas conexões. Irrealidade dos acordos no ugar nenhum de todo lugar. Imprevistos eventos em ponto de partida, ao deixar para trás os velhos mapas.

Interrogação mediada no intercurso dinâmico como viver. Entremeios de quase-nada, onde uma vida inteira pode acontecer! Um inesquecível presente sucede-se em memórias de amanhã. Quem sabe o abismo permita realizar a solidão compartilhada no superlativo voo, no qual chegadas e partidas venham a ser uma coisa só. O fim reencontrando seu (...).  

*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica – Poéticas da Singularidade”. Ed. E-papers/RJ. 2007.  

**Instagram: @helio_strassburger                                                                                 

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