Quem instaura vigor, o criador que alcança o não-dito, que irrompe no não-pensado, que conquista o não acontecido e faz aparecer o não-visto, um tal instaurador de vigor está sempre em risco.”
Martim Heidegger
Recomeço entremeios de
subterfúgios na estrutura do tempo. Revelação sutil das (im)permanências.
Situação qualquer na interseção com olhares da diversidade perspectiva. Um
estrangeiro constitui-se em território próprio, descortinando-se absurdos de
tudo u nada. Tratativas em decifrar os segredos nos percursos de brevíssimo
existir. Um depois de amanhã articula-se na conversação com o pretérito
imperfeito das (des)continuidades. Insinuação em aparência (doxa) pela
antes e depois de qualquer coisa.
Enredos de múltiplas faces
divertem-se em achados e perdidos contornos. Disposição pelo indizível em
natureza de efêmeras memórias. Um começo sem fim em quase-tudo efetiva o ímpeto
das raras fontes. Descobertas de saber impreciso num mundo sempre outro.
Provisórios acordos com as químicas do sono podem deixar uma sensação de
incompletude nas retrospectivas de aspecto indecifrável.
Umberto Eco sobre a
multiplicidade hermenêutica: “Das estruturas que se movem àquelas em que nós
nos movemos, as poéticas contemporâneas nos propõem uma gama de formas, que
apelam à mobilidade das perspectivas, à
multíplice variedade das interpretações. Mas vimos também que nenhuma obra de
arte é realmente “fechada”, pois cada uma delas congloba, em sua definitude
exterior, uma infinidade de “leituras” possíveis.” (A Obra Aberta, 2005).
Uma espécie de feitiço do tempo
institui
suas leis em recordações de permanecer modificando-se. Agora sempre outro no ir
e vir da história de cada um. Matéria-prima para um aproximar reflexivo (techne)
com o incomum dessas travessias. Estranhos fenômenos apreciam o refúgio no
todavia-contudo (aporia) das ocasiões. Aguardam um flagrante no
cotidiano decifrar dos novos endereços, investigação corrente por entremeios de
lugar incerto. Metafísica das contínuas manifestações elabora desígnios de
reciprocidade com os mutantes contextos. Primitivas representações em novidade
de não-ser um tempo qualquer.
Especulação das possibilidades na
intimidade de Chronos. Elaboração em linguagem própria a buscar refúgio no
incomunicável devir. Nesses esconderijos articulam-se conjecturas em desdobramentos
de entretanto. Singular preparação na híbrida relatividade dos contextos.
Categoria presente na descontinuidade de cada instante revela-se nas miragens
de (quase) perder de vista. Horizontes por onde aprecia (des)aparecer. Um viver
contido re-inaugura-se na insanidade normalizada dos dias.
Michel Foucault no recordar
Paracelso: “Não é vontade de Deus, que o que ele cria para o benefício do
homem e o que lhe deu permaneça escondido (...). E ainda que ele tenha escondido
certas coisas, nada deixou sem sinais exteriores e visíveis com marcas especiais
– assim como um homem que enterrou um tesouro marca a sua localização a fim de
que possa reencontrá-lo.” (História da loucura, 2000).
Uma reflexão contínua persegue o
invisível andarilho por seus inúmeros disfarces. A ilusão de perceber-se sempre
o mesmo pode antecipar uma concepção de expressividade sem medida. Múltiplas
investigações procuram manter interseção com a natureza fugidia desse absurdo (logos)
presente nos fenômenos. Vereda de extraordinários achados sugere estar sempre
em outro lugar.
A saudade de um tempo que se foi
(re)-significa sua permanência na memória do coração. Assim, ao vislumbrar as
páginas do velho álbum, a recordação atualiza aquilo tudo que vivia muito bem
sendo esquecido. No entanto, costumam ser as novas vivências a medicação mais
poderosa. A interseção com inéditos amanhãs antecipa-se em promessas de ser
real.
Nietzsche em busca de descrever
esse estranho espécime – o filósofo: “O filósofo é uma das maneiras pela
qual se manifesta a oficina da natureza – o filósofo e o artista falam dos
segredos da atividade da natureza. (...) Eles e a arte ocupam o lugar do mito
que está desaparecendo. Contudo, eles surgem muito adiantados, já que a atenção
de seus contemporâneos só muito lentamente se volta para eles.” (O livro do
filósofo, 2001)
Talvez o diálogo com esses
imediatos vestígios, possa (des)ocultar um agora em desdobramentos de pouco
antes ou logo depois. Magia a esconder-revelar indícios de algo mais por entre
lacunas de estranhas conexões. Irrealidade dos acordos no ugar nenhum de todo
lugar. Imprevistos eventos em ponto de partida, ao deixar para trás os velhos
mapas.
Interrogação mediada no
intercurso dinâmico como viver. Entremeios de quase-nada, onde uma vida inteira
pode acontecer! Um inesquecível presente sucede-se em memórias de amanhã. Quem
sabe o abismo permita realizar a solidão compartilhada no superlativo voo, no
qual chegadas e partidas venham a ser uma coisa só. O fim reencontrando seu
(...).
*Hélio Strassburger in “Filosofia Clínica – Poéticas da Singularidade”. Ed. E-papers/RJ. 2007.
**Instagram: @helio_strassburger
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